Imagem cedida pela FAMS - Fundação Arquivo e Memória de Santos
Velho? Não, não sou... mas andei muito de bonde. Afinal eles saíram de linha não faz tanto tempo assim. Mas a estória que ficou na minha lembrança é do tempo em que eu era ainda mais jovem.
Acho que tinha doze ou treze anos. Naquela época eu costumava ir ao Clube Internacional de Regatas encontrar meus amigos para jogar bola e ir à piscina. Ia sozinho. Já era um homem.
Pegava o bonde na praia do Boqueirão, onde hoje é a Ilha de Conveniência. Mas tinha que ser o bonde aberto, e não o camarão (aquele todo fechado), porque eu adorava ir no estribo. Como todos os meninos da minha idade, pegava o bonde andando. Não tinha graça subir quando ele estava parado no ponto. Ele partia e rapidamente corríamos atrás e saltávamos nos degraus. Era uma demonstração de habilidade e maturidade.
E aquele dia foi como os outros. Peguei o 4 , fiquei no estribo, o bonde desenvolveu velocidade a caminho da Igreja do Embaré e eu, para me exibir mais ainda, fiquei no estribo sem apoiar as mãos, procurando nos bolsos o dinheiro para pagar a passagem.
Imagem cedida pela FAMS - Fundação Arquivo e Memória de Santos
Não contava ( ou me esqueci) com a já conhecida curva do canal e , de repente, me estatelei no chão .... foi um alvoroço. Lembro do meu conjunto novo de shorts, todo ensangüentado. O motorista e o cobrador não sabiam o que fazer. Você está bem? Onde mora? Quem são seus pais?
Rapidamente o fiscal resolveu que iria me levar em casa. Necessitava de cuidados. Não podiam me deixar ali com o peito, cotovelos e joelhos todos ralados. Apavorado aceitei a ajuda.
Lembro da cara de horror da minha irmã quando abriu a porta e me viu naquele estado junto ao fiscal uniformizado, que lhe explicou o quanto imprudente eu tinha sido.
Foram feitos os curativos e fiquei na sala todo coberto até o pescoço, porque meu pai não poderia saber o que tinha acontecido. Na certa, além da dor que eu estava sentindo, ainda iria levar uma bronca daquelas.
Novembro/2005