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Propostas de Reformulação da Visita Monitorada e Criação de Material de Apoio Trilíngue ao Turista para o Theatro Municipal de São Paulo - TURISMO E PATRIMONIO CULTURAL
Mariana Cuencas Santos1
 
Turismo e Patrimônio Cultural

1. Sobre Turismo e Cultura
“Turismo cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”2.

Conforme a definição da Organização Mundial do Turismo (OMT) (apud FUNARY; PINSKY, 2003, p. 7), o conceito de turismo compreende-se por: deslocamento de pessoas de suas residências, por no mínimo vinte e quatro horas e com finalidade de retorno. As motivações que levam um indivíduo a se deslocar são variadas: podem ser questões de trabalho, saúde, conhecimento e – o que mais é associado a essa atividade – lazer. No entanto, quaisquer que sejam os motivos pelos quais esse deslocamento ocorre, há um elemento que é comum a todas as experiências de viagem: o contato do indivíduo com uma cultura que não é a sua. Portanto, pode-se dizer que toda forma de turismo é cultural.

Para compreender essa associação, é necessário definir o que é realmente a cultura de uma localidade. De acordo com o dicionário Aurélio da língua portuguesa, cultura é “o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade”3. Dentro desta definição estão aspectos como as edificações, a gastronomia, as manifestações religiosas e artísticas, entre outros, que compõem os principais atrativos turísticos de uma cidade.

Sendo assim, o turista quando viaja, seja qual for a sua motivação, traz de volta como “bagagem” a experiência de viver por alguns momentos uma cultura diferente da sua, resultado de seu contato com as ruas, a comida, os edifícios e os autóctones: em suma, o seu contato com o patrimônio histórico-cultural de um destino turístico.

2. Patrimônio histórico-cultural
Patrimônio histórico. A expressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos. Em nossa sociedade errante, constantemente transformada pela mobilidade e ubiqüidade de seu presente, “patrimônio histórico” tornou-se uma das palavras-chave da tribo midiática. Ela remete a uma instituição e a uma mentalidade.4.

A definição de patrimônio histórico-cultural é objeto de discussão desde que a questão da preservação de edificações, obras, entre outros elementos do passado coletivo, foi levantada no século XV. Duas definições, no entanto, são utilizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Brasil e servem como referência para este trabalho. Uma delas, a da “Carta de Veneza” de 1964, é também adotada pelo Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, e faz a seguinte descrição:

[...] compreende a criação isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação histórica.5.

A outra, que mais especificamente se destina ao patrimônio arquitetônico, é de 1975 (chamado “o ano europeu do patrimônio arquitetônico”), e é um consenso ao qual se chegou durante um congresso realizado em Amsterdã. Ela diz: “Esse patrimônio (arquitetônico) compreende não somente as construções isoladas de um valor excepcional e seu entorno, mas também os conjuntos, bairros de cidades e aldeias, que apresentam um interesse histórico ou cultural” 6.

O patrimônio material – representado por edifícios, monumentos e marcos, entre outros – é a representação mais sólida e visível ao turista do patrimônio histórico-cultural, e normalmente são as imagens deste patrimônio que se tornam “emblemas” ou referências de uma localidade: da mesma forma que um indivíduo lembra-se do Empire State Building quando ouve o nome “Nova Iorque”, ele associa a imagem de Stonehenge ao Reino Unido e da Torre Eiffel à Paris. “Além de servir ao conhecimento do passado, os remanescentes materiais da cultura são testemunhos de experiências vividas, coletiva e individualmente [...]”7.

Talvez por este fato o patrimônio histórico-cultural material é de tão forte apelo a um indivíduo – ou a uma sociedade: ele não só representa um destino, como também representa uma sociedade e sua cultura, e por conseqüência todos os seus aspectos. Dessa forma, o turista que visita essas edificações emblemáticas tem a oportunidade de experimentar e vivenciar por um momento a história viva de uma localidade e de seu povo.

Não é de hoje que o homem se esforça para preservar seu patrimônio histórico-cultural material: esta tendência iniciou-se no período do Quattrocento italiano (por volta de 1420 d.C.), quando as atenções da sociedade intelectual e dos religiosos se voltaram à proteção das obras remanescentes da Antigüidade (principalmente) e da Idade Média. Porém foi preciso séculos para que se passasse a ter a visão de que a conservação do patrimônio e seu apelo turístico estão intimamente relacionados. “O desenvolvimento de uma forma de lazer, já antiga, que ainda não recebera o nome de turismo, só em longo prazo refletir-se-á sobre a conservação”8.

Pode-se ver que os grandes destinos turísticos do mundo – em especial, os europeus – têm essa visão e a adotaram para consolidarem-se. Hoje nota-se também que países de forte apelo cultural, e que durante muito tempo não tinham o sentimento de conservação de seu patrimônio, agora caminham nessa direção. É o caso, por exemplo, do Brasil, que lentamente faz renascer o interesse pelo seu período colonial com a recuperação de fazendas, casarios, igrejas, tradições e costumes, desde o interior do estado de São Paulo a diversas cidades nordestinas. Como exemplo, pode-se mencionar o que hoje é conhecido como o circuito “Fazendas Históricas Paulistas”, que abrange treze fazendas do século XIX parcial ou totalmente restauradas e adaptadas para o uso turístico, ou ainda a cidade de Olinda, em Pernambuco, que em 2005 foi eleita a Capital Cultural do País – de acordo com a organização Capital Brasileira da Cultura (CBC), e com o apoio dos ministérios da Cultura e do Turismo – e cujo centro histórico é considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO desde 1982.

Estas já podem sentir os benefícios que a restauração e a preservação do patrimônio histórico-cultural trazem para a atividade turística: cada uma delas têm suas características peculiares – o que as tornam únicas e, conseqüentemente, atraentes a diversos tipos de turistas – e ainda assim todas compõem partes de uma mesma cultura: a cultura brasileira.

Para continuar a leitura, .
 
1 Bacharel em turismo pela Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. mariana.cuencas@yahoo.com.br

2 MINISTÉRIO DO TURISMO. Segmentação do turismo: marcos conceituais. [s. l.]: [s. n.], [entre 2003 e 2006].

3 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
[19--], p. 409.

4 CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2001, p. 11.

5 ANDRADE, A. L. D. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2006.

6 ANDRADE, A. L. D. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2006.

7 FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Org.). Turismo e patrimônio cultural. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Contexto, 2003, p. 17. (Turismo Contexto).

8 CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2001, p. 90.

9 MENEZES, R. Como nasceu o teatro em São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 22 ago. 2006.

10 MENEZES, R. Como nasceu o teatro em São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 22 ago. 2006.

11 O surgimento do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) em 1948 é considerado por críticos de arte e historiadores como um divisor de águas do teatro brasileiro, pois estabeleceu um novo conceito de profissionalismo na atividade, diferente e mais moderno do que aquele que vinha sendo feito no teatro dos filodramáticos.

12 MENEZES, R. Como nasceu o teatro em São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 22 ago. 2006.

13 Art nouveau: estilo estético do final do século XIX que teve início na Bélgica, mas que se espalhou por toda a Europa e, posteriormente, no mundo todo. Pode ser visto essencialmente no design e na arquitetura da época, com a exploração de materiais como o ferro e o vidro, e é caracterizado pelas formas orgânicas e rebuscadas e o escapismo para a natureza.

14 SÃO PAULO 450 ANOS. Teatro Municipal (1911). Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2006.

15 BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Teatro Municipal de São Paulo: grandes momentos. São Paulo: DBA Artes Gráficas, 1993, p. 27.

16 THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. La Gioconda, de A. Ponchielli. São Paulo: [s.n.], 2006. Programa.

17 DRUMMOND, Siobhan; YEOMAN, Ian (Org.). Questões de qualidade nas atrações de visitação a patrimônio. Tradução de Helio Hintze e Ana Cristina Freitas. São Paulo: Roca, 2004, p. 121-122.

18 DRUMMOND, Siobhan; YEOMAN, Ian (Org.). Questões de qualidade nas atrações de visitação a patrimônio. Tradução de Helio Hintze e Ana Cristina Freitas. São Paulo: Roca, 2004, p. 126.

19 DRUMMOND, Siobhan; YEOMAN, Ian (Org.). Questões de qualidade nas atrações de visitação a patrimônio. Tradução de Helio Hintze e Ana Cristina Freitas. São Paulo: Roca, 2004, p. 130.