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Circuito dos Fortes
Elcio Rogerio Secomandi1
 
RESUMO: Este artigo apresenta o projeto criado para o uso das Fortificações localizadas na Baixada Santista como atrativos culturais para atividades turísticas.

ABSTRACT: This article talks about the project to use the group of Militar Forts located in Baixada Santista as Cultural Heritage Attraction to Tourism Activities.

Breve Histórico

A costa oriental da América, ao sul do Equador, tem poucas enseadas seguras para abrigar portos em seus recortes. As três melhores baías a leste de Tordesilhas foram ocupadas pelos portugueses, nos primórdios da colonização: baía de Todos os Santos, baía da Guanabara e baía de Santos.

Estes três acidentes geográficos favoráveis ao estabelecimento de portos abrigados foram ocupados e defendidos por complexos sistemas de fortificações coloniais, resistentes aos fogos da artilharia naval de outras potências colonizadoras, dos corsários e dos piratas, e com rusticidade suficiente para durar muitos séculos.

As fortificações coloniais brasileiras foram construídas por portugueses, espanhóis, franceses e holandeses. Outras, mais modernas, foram erguidas no Império e, algumas, no período republicano. Muitas conservam suas características originais, desafiando o tempo e as intempéries; algumas foram desmontadas, outras devastadas e nenhuma, saqueada por inimigos estrangeiros. A maioria das que restam pertence ao acervo histórico do Exército Brasileiro e algumas são administradas por outros órgãos públicos ou por instituições privadas.

O constante aprimoramento dos vetores balísticos, a maior potência dos canhões de artilharia e o emprego da aviação em combate obrigaram as fortificações a se enterrarem, tornando-as “invisíveis” (Linha Maginot, na França; Forte dos Andradas, no porto de Santos). Hoje, as posições da artilharia tornaram-se “virtuais” (foguetes e mísseis balísticos lançados de posições fugazes). A arquitetura militar de posição fixa chegou ao seu final, e as fortificações sobreviventes perderam a aptidão para o combate. Urge, portanto, que se dê a elas novos programas voltados para a preservação da memória nacional e da cultura militar brasileira, como ocorre no mundo inteiro.

A baía de Santos dispõe de um formidável complexo de fortificações erguido ao longo dos últimos 500 anos, com o mesmo padrão de engenharia militar difundido pelo mundo inteiro (a arquitetura militar é universal). A região da Costa da Mata Atlântica –que tem na baía de Santos o seu foco estratégico– preserva oito exemplares deste rico patrimônio histórico-militar. Nos dias atuais estes monumentos estão sendo colocados à disposição do público e seus administradores buscam –através de roteiros turísticos, históricos-culturais e ambientais– estabelecer um elo seguro entre um passado glorioso e um futuro que se anuncia promissor.

O sistema de defesa colonial do porto de Santos era composto por uma Casa do Trem Bélico (1734), para prover o apoio logístico às fortalezas, fortes e redutos localizados em pontos estratégicos do litoral. Ao norte do porto, protegendo um acesso marítimo secundário que se inicia em Bertioga, foram erguidos o Forte São Tiago ou São João de Bertioga (1551) e o seu cruzador de fogos, o Forte São Felipe (1557) substituído, mais tarde, pelo Forte São Luiz (1770). Infelizmente, São Luiz está em ruínas e seu abandono testemunha uma fase negra do vandalismo histórico. Ao sul, protegendo o estreito canal de acesso ao porto foram erguidos a Fortaleza de Santo Amaro (1584), seu reduto de contrabateria, o Forte Augusto (1734) e um “sentinela avançado”, o Fortim do Góes (1767). Do Forte Augusto, hoje Museu de Pesca, resta apenas o seu canhão Withworth de 70 libras, apontado para a embocadura do estuário de Santos; do Fortim do Góes, apenas uma patlaforma em área devastada pela ocupação irregular.

Partindo do Atlântico sul rumo a baía de Santos e penetrando no estuário que abrigava o antigo porto da vila de Santos, os navios do período colonial –após passarem pela defesa da embocadura do estuário– eram obrigados a “desfilar” com seus costados de estibordo frente à Fortaleza de Vera Cruz de Itapema (1738) e, em seguida, manobrar para bombordo, oferecendo suas popas aos canhões da última linha de defesa. Os fogos de proteção final competiam ao reduto da praça da vila de Santos (Forte Nossa Senhora do Monserrat, 1543), do qual nada restou. O porto organizado teve origem no atual centro da cidade de Santos e era bem protegido por sucessivas cortinas de fortificações construídas em duplas e lados opostos para cruzarem fogos sobre os acessos marítimos.


Com a evolução da artilharia de costa, em resposta à evolução da artilharia naval, o sistema de defesa do porto passou a ocupar posições estratégicas mais avançadas para realizar “fogos mais profundos”, com alças e derivas apontadas para o mar aberto. No alvorecer do século XX a Fortaleza de Santo Amaro foi substituída pela Fortaleza de Itaipu (1902), ocupando cerca três milhões de m2, no Parque Estadual do Xixová-Japuí , em área da Mata Atlântica, totalmente preservada. O complexo Itaipu (Forte Duque de Caxias, Forte Jurubatuba, Forte Rêgo Barros e instalações de apoio) está assentado sobre uma pequena serra litorânea que moldura o costão sul da baía de Santos. O costão norte da baía, com as mesmas características e o mesmo grau de preservação ambiental, abriga o Forte dos Andradas (1942), construído para proteger o porto na iminência da II Guerra Mundial.

Este formidável sistema de defesa está sendo aberto ao público em programas de visitação, através do Circuito Turístico dos Fortes, instituído pela Resolução SCTDET nº 04, de 11.02.2004 (anexa), da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Governo do Estado de São Paulo, em parceria com os signatários da referida resolução e outros administradores dos monumentos: Exército Brasileiro (1ª Bda AAAe), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/SP), Alfândega do Porto de Santos, prefeituras de Bertioga, Guarujá e Santos e Universidade Católica de Santos, em convênio com o IPHAN. O projeto tem o apoio de diversas instituições públicas e privadas (Fundação Cultural Exército Brasileiro, Universidade Católica de Santos, Delegacia de Turismo da Baixada Santista, SEBRAE, Agência Metropolitana da Baixada Santista, Santos e Região Convention & Visitors Bureau) e agências de turismo.

Para aguçar a curiosidade sobre o Circuito Turístico dos Fortes, um breve fato histórico, do final do século XVIII: __ “ao avistar um navio de suspeita”, o Forte Augusto disparava um tiro de salva. Por sua vez, a Fortaleza de Santo Amaro repicava com dois tiros e, a seguir, a Fortaleza de Vera Cruz de Itapema disparava o quarto tiro de salva. A comunicação pelo troar dos canhões visava alertar a tropa para o bloqueio da serra do mar e agilizar a “expedição de paradas” (mensageiros a cavalo) para alertar as vilas do planalto paulista.

“Toda a gente da Villa (de Santos) capaz de pegar em Armas / excetuados os que devem laborar com a Artilharia do Forte (Santo Amaro), ou que são destacados para outra parte / marcharão ao ponto que lhe for ordenado pelo commandante da mesma Villa, levando todas as suas Armas”.
(Plano de Defesa da Capitania de São Paulo, dez. 1800).


Propositadamente deixa-se aos leitores a curiosidade de localizar os atuais municípios da RMBS –Região Metropolitana da Baixada Santista–, que abrigam estas maravilhas da engenharia militar, construídas ao longo de muitos séculos. Ao visitá-las, outras “histórias” serão contadas aos visitantes pelos guias turísticos e pelos monitores-mirins que atuam nos monumentos.

Venha conhecer o Circuito Turístico dos Fortes! Além de visuais diversificados e deslumbrantes há uma história vivificada sobre o sistema de defesa do porto de Santos. Venha! Participe desta formidável aventura. Escolha o seu roteiro e boa viagem.

Visite o site: para um passeio virtual em um destes monumentos históricos, com versões em inglês e espanhol
 
1Responsável pela Fundação Cultural Exército Brasileiro na Baixada Santista, Representante na Região Metropolitana da Baixada Santista e Assessor para Projetos Especiais na Universidade Católica de Santos