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Artigo
Artigo

 
Núcleo Museológico dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, Portugal
José de Almeida1
 
RESUMO: Artigo sobre o Núcleo Museológico dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça (Portugal) e a importância de seu acervo para a comunidade local.

ABSTRACT: Article about Núcleo Museológico dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça (Portugal) and how important is the collection to the local community.










Introdução

Localizado no edifício do próprio quartel-general do corpo de Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, sito na freguesia de Leça da Palmeira, conselho de Matosinhos, distrito do Porto, este pequeno núcleo museológico expõe e preserva a memória daquela nobre instituição através de um interessante e importante acervo histórico, de carácter bastante heterogêneo e multidisciplinar.

Reunindo o seu espólio através das mais diversas formas ao longo dos anos que antecederam e sucederam à sua fundação em 1943, pela ocasião do septuagésimo aniversário daquela corporação, o nascimento do Museu dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça deveu-se à sensibilidade e reconhecimento da comunidade local, ciente da importância daquela organização humanitária para o concelho e áreas adjacentes.






Quartel-general dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça.







Contextualização e nascimento da corporação

Para que se compreenda a importância vital de uma instituição como a dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, convém considerar e contextualizar Leça da Palmeira e Matosinhos, tanto ao nível geográfico como sócio-econômico.

Ambas as localidades situam-se no concelho de Matosinhos, localizado no Norte Litoral de Portugal, tendo como fronteiras a Norte o concelho de Vila do Conde, a Sul o Porto e a Nordeste as terras da Maia, sendo a zona Oeste banhada pelo Oceano Atlântico. A sua localização em termos macro-geográficos coloca Matosinhos num local de destaque na região do Nordeste peninsular e europeu, privilegiado nas rotas marítimas entre o Atlântico, Mar do Norte e Mar Mediterrâneo.

Economicamente, a região foi desde sempre marcada e influenciada pela dualidade Terra-Mar, advinda da sua própria morfologia geográfica. Contudo, apesar de historicamente conhecido como um espaço extraordinariamente fértil e produtivo em termos agrícolas, foi no mar, ou através deste, que Matosinhos safrou a sua maior riqueza.

Beneficiando de um porto de abrigo natural, situado na foz do Rio Leça, fronteira natural entre Matosinhos e Leça da Palmeira, o concelho assistiu ao longo da história a um manifesto aumento da sua importância ao nível econômico e comercial, nacional e internacional. Cientes desta realidade e fazendo face ao problema de inavegabilidade do Douro, dado o grande porte dos novos navios que então surgiam a cruzar os mares, as autoridades iniciaram, ainda no decorrer do século XIX, a construção do porto marítimo de Leixões, que pela sua grande envergadura em termos espaciais, gradualmente foi transformando toda a região, quer ao nível físico como sócio-econômico e sócio-cultural.

Matosinhos viu-se desta forma detentor de uma importante âncora infraestrutural, o porto de Leixões, seguindo-se um cenário de grande aceleramento e desenvolvimento econômico, fruto de um forte ímpeto empreendedor no que concerne à indústria, comércio e serviços. Dotado de maiores pólos de atratividade, assistiu-se ao longo de todo o século XIX e XX, ao desenvolvimento da malha urbana e à burocratização das atividades comerciais do concelho, que começa a usufruir da criação e deslocação de várias empresas e indústrias. Todo este progresso e crescimento explicariam por si só a necessidade em redobrar as atenções face à segurança e protecção civil. Não obstante, uma outra situação, igualmente, importante iria contribuir para a criação da instituição humanitária, futuramente batizada de Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça. O inegável valor geoestratégico de Matosinhos, face à sua fronteira com o mar trazia algo mais do que riqueza, desenvolvimento e progresso. Não podemos esquecer a integração de Matosinhos num território denominado de Costa Negra. Este espaço, assim apelidado por sucessivas gerações de navegadores e marinheiros, devido às perigosas correntes e ao carácter mortífero da sua costa, tantas vezes palco de desastres e catástrofes marítimas, balizava-se a Sul pela região de Espinho e a Norte pela Finisterra, já na região espanhola da Galícia. A existência dentro desse perímetro do porto de abrigo e mais tarde do porto marítimo de Leixões, aliado ao elevado fluxo de tráfego que dele adveio, maximizava o já existente perigo de naufrágio, conforme, infelizmente, se veio a verificar, devido à necessidade de aproximação da costa por parte das embarcações, de forma a ali poderem aportar.

Foi nesta conjuntura que se processou a fundação da sociedade humanitária dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, no já longínquo ano de 1873, sendo esta a primeira corporação de bombeiros do concelho de Matosinhos.






Fotografia dos inícios do séc. XX mostrando um grupo de bombeiros a expor um veículo de tração humana de combate ao fogo.






Espólio museológico

Voltado para o porto de Leixões, o pequeno complexo museológico, localiza-se em pleno coração do quartel-general dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, ocupando um espaçoso salão, que reúne todo o espólio visitável desta colecção.






Panorâmica geral do interior do Museu dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, mostrando em primeiro plano um veículo de tração animal usado no combate ao fogo.




Nele encerra-se um valiosíssimo tesouro, testemunho singular de múltiplas realidades ligadas não só à história daquela instituição como da comunidade onde se integra. Percorrendo esta coleção o visitante é convidado a viajar no tempo, descobrindo a história dos bombeiros e a sua evolução ao longo de várias gerações, revivendo inúmeras aventuras, fruto de múltiplos salvamentos, desde incêndios a grandes naufrágios.

A colecção assenta, essencialmente, em três categorias. Os antigos utensílios e equipamentos usados pelos bombeiros e equipes de salvamento; ofertas de espólio relativo à história da instituição, efetuadas na maior parte das vezes por familiares de falecidos membros daquela corporação; os chamados salvados, objetos vários, oferecidos ou recuperados, posteriormente guardados como ex-votos ou souvenirs de operações cumpridas pela unidade.

Entre os diferentes objetos e artefatos expostos podemos encontrar carros de combate a incêndios de tração animal e humana, bombas de água antigas, coletes salva-vidas, bandeiras, medalhas, condecorações individuais e coletivas, uniformes, sinos e sinetas, rádios, miniaturas de modelismo, foguetes, brinquedos, rodas de leme, máquinas de escrever, imagens religiosas, entre outros objetos oriundos de vários salvamentos.






Carro de tração humana para combate ao fogo.







Roda do leme oriunda do vapor espanhol Jofre, naufragado na costa de Leixões, em 1916. Peça oferecida aos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, pelo despachante oficial, Joaquim Moreira de Almeida, após toda a tripulação ter sido salva por soldados daquela corporação.









Alguns dos exemplos de condecorações e distinções atribuídas aos bombeiros de Matosinhos-Leça.






Recursos do núcleo museológico

A leitura do presente artigo poderá levantar uma questão pertinente face à designação deste espaço. Porquê designar este espaço de núcleo museológico e não museu? Apesar de não descurar esse campo, a corporação de bombeiros não é propriamente uma instituição cultural. A existência deste núcleo museológico advém da gradual constituição de uma coleção privada, organizada por amadores, amigos da instituição, sendo posteriormente aberta ao público, quando solicitado.

A ausência de pessoal técnico qualificado, serviços educativos ou uma pasta pedagógica são alguns dos fatores que condicionam a sua classificação como museu, segundo as concepções contemporâneas de museologia.

Esta situação contrasta, por exemplo, com a do Museu da Farmácia, situado em Lisboa. Este apesar de ser também privado como o Museu dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, dispõe de uma organização museológica qualificada, bem como de uma pasta pedagógica, serviços educativos e ainda de uma pequena loja relativa à temática do museu.

Esta análise do espaço em questão poderá, aparentemente, levantar alguma polêmica, contudo, esta não condiciona o grande interesse pedagógico e cultural deste espaço, valorizando ainda mais o esforço da instituição detentora deste fantástico acervo, bem como dos seus respectivos organizadores e zeladores, que mostram aos visitantes mais do que uma simples coleção, partilhando histórias e experiências na primeira pessoa.

Este complexo emerge como uma mais valia no que toca à promoção cultural e cívica, sensibilizando qualquer visitante, independentemente da idade, para a cabal importância das funções desempenhadas, não só pelos voluntários desta associação humanitária, como por todos os designados soldados da paz. Heróis do dia-a-dia, predispostos a arriscarem as suas vidas, em prol do próximo. A eles é dedicado este memorial.






Conjunto de capacetes protetores substituídos por equipamento mais recente.






Funcionamento

O Museu dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça abre mediante pedido feito à direção por parte dos interessados. A entrada é gratuita, fazendo-se visitas guiadas a grupos e escolas.





Localização e contato
Edifício dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça
Av. Dr. Antunes Guimarães
Leça da Palmeira
PORTUGAL
Telefone: 351 229 953 334
Fax: 351 229 953 467
 
1José António Miranda Moreira de Almeida nasceu na cidade do Porto a 10 de Junho de 1981. Licenciado em Ciências Históricas pela Universidade Portucalense – Infante D. Henrique e pós-graduado em Turismo Cultural pela Universidade Fernando Pessoa/ADER-Sousa, possui experiência no âmbito da educação, bem como nos domínios da investigação científica em Ciências Sociais e Humanas. Colabora em várias publicações periódicas de carácter cultural, participando também na organização de eventos da mesma índole. (jamma@netcabo.pt)