RESUMO: Nos últimos anos tem se observado um grande crescimento do turismo marítimo. Dentro desta realidade mundial, o Brasil também observa um amplo desenvolvimento no mercado de turismo de cruzeiros. Considerando o cenário nacional no que se refere a turismo de cruzeiros, pode-se atribuir um destaque particular ao estado da Bahia. Observa-se também a recente ascensão da cidade de Ilhéus, ao sul do estado, como um pólo receptor de navios de cruzeiros. Políticas públicas amplamente desenvolvidas pelo governo municipal têm sido responsáveis por alavancar o porto local em movimentação de navios de passageiros. O presente artigo pretende apresentar um olhar sobre a realidade do turismo de cruzeiros na cidade. O objetivo aqui é realizar uma discussão a respeito deste tipo de turismo analisando seu presente e suas potencialidades de desenvolvimento.
ABSTRACT: In recent years if it has observed a great growth of the maritime tourism. Inside of this world-wide reality, Brazil also observes an ample development in the market of tourism of cruises. Considering the national scene with respect to tourism of cruises, a particular prominence can be attributed to the state of Bahia. The recent ascension of the city of Ilhéus is also observed, to the south of the state, as a receiving polar region of ships of cruises. Public politics widely developed by the municipal government have been responsible for raise the local port in movement of ships. The present article intends to present a look on the reality of the tourism of cruises in the city. The objective is here to carry through a quarrel regarding this type of tourism being analyzed its the present time and its potentialities of development.
Introdução
Nos últimos anos tem se observado um grande crescimento do turismo marítimo. Nos anos setenta, cerca de meio milhão de pessoas no mundo escolhiam um navio para seus momentos de férias. Segundo o site Ciber América, em 2004, o número de turistas de cruzeiros superou treze milhões de passageiros. Estimativas da indústria especializada apontam que, em 2010, o número de turistas em navios de cruzeiro ultrapasse a marca de vinte e dois milhões de pessoas por ano.
Dentro desta realidade mundial, o Brasil também observa um amplo desenvolvimento no mercado de turismo de cruzeiros. Possuindo uma costa que – além de ser dona de belas paisagens – é livre de intempéries e possuidora de extensa área navegável, o país surge como um dos destinos procurados por turistas de todo o mundo.
Apesar de ainda não conseguir explorar totalmente a potencialidade do mercado de turismo2, percebe-se facilmente que o Brasil já está incluso no mercado mundial de cruzeiros. Luxuosos navios passaram a ser figura comum em cidades dotadas de potencial turístico e estrutura portuária adequada.
Considerando o cenário nacional no que se refere a turismo de cruzeiros, pode-se atribuir um destaque particular ao estado da Bahia. Possuidor da maior costa navegável do país, com 1.183 km de extensão, o estado já seria – apenas por esse motivo – digno de atenção da indústria turística marítima. Porém, não contando exclusivamente com isso, e considerando a imensa potencialidade turística da costa baiana, o poder público local tem empenhado alguns esforços – limitados, sem dúvida, mas reais – no sentido de desenvolver o estado como pólo receptor também deste tipo de turismo. O trabalho desenvolvido pelo governo estadual iniciou em 1991, após a liberação da política de cabotagem nacional3, contou com obras de infra-estrutura específica e divulgação da destinação através de operadores turísticos e armadores internacionais.
A lei de cabotagem refere-se à liberação para que embarcações estrangeiras do setor de transporte de passageiros pudessem cumprir rotas turísticas (com embarque e desembarque) em portos brasileiros. Antes da Emenda Constitucional nº.7, de 15 de agosto de 1995, que regulamentou a cabotagem nacional, era permitido aos navios estrangeiros apenas o embarque de passageiros em algum porto brasileiro com a finalidade de desembarque em algum porto estrangeiro. A medida fomentou grandemente a atividade no Brasil, que até então não utilizava seu potencial geográfico para a exploração deste segmento econômico. Isto acabou levando a cidade de Salvador a ser a primeira colocada na movimentação de cruzeiros entre portos do nordeste e a segunda do país.
Observa-se também a recente ascensão da cidade de Ilhéus, ao sul do estado, como um pólo receptor de navios de cruzeiros. Políticas públicas amplamente desenvolvidas pelo governo municipal têm sido responsáveis por alavancar o porto local em movimentação de navios de passageiros. O presente artigo pretende apresentar um olhar sobre a realidade do turismo de cruzeiros na cidade sul baiana. Através do estabelecimento de um foco sobre a temporada de cruzeiros do verão 2005 - 2006, o objetivo aqui é realizar uma discussão a respeito deste tipo de turismo analisando seu presente e suas potencialidades de desenvolvimento.
Não é o objetivo, neste momento, analisar questões relativas à infra-estrutura municipal e sua aplicabilidade a questões turísticas. A idéia aqui é apenas oferecer uma visão sobre as ações do receptivo municipal a fim de se estabelecer uma ampliação das reflexões sobre este tema.
Temporada de Cruzeiros
A cidade de Ilhéus conta em sua história recente, todos os anos, com uma definida temporada de cruzeiros. Alguns dos navios mais luxuosos que navegam pela costa brasileira aportam na cidade no período compreendido entre outubro e março. Turistas de várias partes do mundo como, brasileiros, ingleses, americanos, australianos, portugueses e espanhóis têm visitado a cidade.
O verão 2005 - 2006 foi, de modo geral, bastante produtivo para o setor turístico de Ilhéus. Levantamentos da Prefeitura Ilheense apontam que a cidade recebeu mais de cento e quinze mil turistas no período compreendido entre os dias dezenove de outubro e vinte e dois de março. O turismo de cruzeiros foi responsável por grande fatia deste número, já que os navios trouxeram cerca de cinqüenta mil visitantes à cidade.
A temporada 2004 - 2005 teve um resultado que, na época, foi considerado satisfatório, alcançando dezenove escalas de navios. Porém, o verão 2005 - 2006 foi de um sucesso ainda maior. Os navios Costa Victoria, Mistral, Island Star, Costa Romântica, Alexander V. Humboldt, Armonia e Delphin foram os responsáveis por superar o número do ano anterior, totalizando vinte e seis escalas. Estima-se que, apenas o Costa Victoria - maior navio de cruzeiros da costa brasileira, com 252 metros de comprimento e 964 cabines - tenha trazido a Ilhéus neste verão mais de dezesseis mil turistas.
Levando em consideração que cada passageiro, em média, gasta cerca de R$ 70 - setenta reais - na cidade, percebe-se a potencialidade e a expressividade deste tipo de turismo para a cidade. A Prefeitura Municipal acredita que o turismo de cruzeiros tenha trazido uma receita de aproximadamente três milhões e meio de reais apenas no verão 2005 - 2006.
Receptivo Municipal
Os excelentes resultados ilheenses não se devem apenas às belezas naturais da cidade. Uma série de ações da prefeitura municipal – através da sua Secretaria de Turismo e da Fundação Cultural de Ilhéus – colaborou para que os resultados fossem significativos. O secretário de turismo, Raymundo Mazzei, coloca as intenções da cidade: “Queremos que o turista chegue aqui e perceba como é importante para nós. Assim, ele certamente voltará trazendo outras pessoas para conhecer Ilhéus”.4
Um processo contínuo de aprimoramento do receptivo foi feito durante todo o verão. O trabalho iniciou antes da chegada do primeiro navio da temporada. O pessoal envolvido no receptivo – taxistas, artistas, comerciantes e outros – receberam treinamento para se oferecer o melhor atendimento possível àqueles que visitam a cidade.
Com o início da temporada de navios, o receptivo diferenciado iniciava ainda dentro da área portuária. Apresentações de grupos afro e de capoeira, participação de atores encenando personagens de Jorge Amado, baianas devidamente caracterizadas aguardavam os turistas assim que eles atracavam em terras ilheenses.
Deve-se registrar igualmente a importante participação da Fundação Cultural de Ilhéus no processo. Os passeios pelo centro histórico da cidade sempre incluíam uma passagem pela sede da instituição, onde os turistas recebiam boas vindas dos funcionários e eram servidos com água de coco. Baianas distribuíam fitinhas do Senhor do Bonfim e perfumavam os visitantes com águas-de-cheiro. Através de parcerias estabelecidas com operadoras de turismo, foram construídos e oferecidos roteiros de passeios que ofereciam opções diversas para os visitantes. Os mais procurados geralmente eram as visitas ao centro histórico da cidade – incluídos o Bar Vesúvio, o Bataclan, Catedral, casa de Jorge Amado, casarões dos coronéis do cacau, etc –, passeios ecoturísticos, praias e locais de venda de artesanato.
A questão dos passeios ecoturísticos mereceu especial atenção do receptivo da prefeitura. Houve uma preocupação no sentido de divulgar o destino em outras áreas, com a finalidade de revitalizar áreas turísticas importantes e pouco exploradas como o Rio do Engenho, o Balneário Tororomba e a Mata da Esperança.
Questionamentos
Dentro do contexto observado, seria produtivo levantar alguns questionamentos. Uma rápida reflexão a respeito da atividade turística daqueles que chegam a Ilhéus via navios de cruzeiro vem a levantar a questão: Estes turistas conhecem Ilhéus? Sabe-se que estes turistas passam, em média, oito horas na cidade. Não chegam, ao menos, a pernoitar. Rodam pela cidade em percursos delimitados e estabelecidos pelos guias. Consomem artesanato, observam o patrimônio arquitetônico e cultural – em peças determinadas – e vão embora com a sensação de conhecerem Ilhéus. Carlos (2002, p.30) diz que:
O turista assume uma postura passiva, ele deixa acontecer e se deixa levar por um programa, pelas mãos seguras de um guia. Os pacotes turísticos têm um papel importante, pois homogeneízam o comportamento, direcionam a escolha tratando o turista como mero consumidor, delimitam hora, lugar, o que deve ser visto e o que não deve, além do tempo destinado a cada atração num incessante “veja tudo depressa para dizer que viu tudo”, registre e fotografe.
Esta reflexão, que a princípio pode parecer vazia e fora de um contexto, objetiva o seguinte resultado: Já que o turista não possui “tempo hábil” para conhecer a cidade, é de fundamental importância a organização séria de um receptivo bem planejado. Este receptivo será o responsável pela imagem que estes turistas levarão da cidade. Um eventual retorno à cidade e a recomendação desta como destino pelos turistas só acontecerá se o resultado da visita for interessante para estes.
Já em outro sentido, Carlos (2002, p.26) faz outra afirmação:
A indústria do turismo transforma tudo o que toca em artificial, cria um mundo fictício e mistificado de lazer, ilusório, onde o espaço se transforma em cenário para o “espetáculo” para uma multidão amorfa mediante a criação de uma série de atividades que conduzem a passividade, produzindo apenas a ilusão da evasão, e, desse modo, o real é metamorfoseado, transfigurado, para seduzir e fascinar
A situação descrita pela autora encontra seu par no turismo de cruzeiros ilheense. Percebe-se que o receptivo apóia-se fortemente em imaginários. A obra Amadiana é peça chave com a presença de seus personagens, baianas – devidamente caracterizadas, apresentações de capoeira, distribuição de fitinhas do Senhor do Bonfim – numa cidade que tem São Jorge como padroeiro! E esta é mais uma reflexão proposta: que Ilhéus é essa observada pelos turistas? É real? Não se pretenderá aqui esmiuçar a fundo a situação, porém é interessante que se reflita a esse respeito.
Conclusões
Independente de filiações políticas, não se pode negar que foram desprendidos esforços da Secretaria de Turismo e da Fundação Cultural de Ilhéus no sentido de se oferecer um receptivo de qualidade a estes turistas. Percebe-se um especial “cuidado” nas ações destinadas aos turistas de cruzeiro, por motivações evidentes. O alto poder aquisitivo destes traz grande lucratividade. Não se levantaram nesse artigo reflexões a respeito da infra-estrutura da cidade para o recebimento de turistas, pois este não era um dos objetivos. A idéia aqui foi apenas a de oferecer uma visão a respeito das ações receptivas para os turistas de cruzeiro e, portanto, considera-se a proposta inicial como cumprida.
Pode-se tomar como principal conclusão a idéia de que é importante sim um bom receptivo, porém com um planejamento cuidadoso. Visando a sustentabilidade do setor é importante o desenvolvimento da consciência que o receptivo é o responsável maior pelas opiniões dos visitantes sobre a cidade e pela sua decisão de retornar. Num sentido autocrítico, este artigo reconhece a possibilidade de possuir limitações. Porém a idéia é da abertura de reflexões. Espera-se, com este trabalho, chamar atenção dos diretamente envolvidos com o setor para a importância de se realizar um trabalho consciente. O objetivo não foi o de se construírem respostas definitivas e sim, na verdade, de se proporem reflexões a fim de se estabelecer um desenvolvimento dos saberes do setor. |