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Parque Urbano Orquidário Municipal de Santos/SP: equipamento de lazer e turismo
Maria Cecília H. Furegato1
 
RESUMO: Este trabalho versa sobre parques urbanos, especialmente quanto a seu papel como espaço para o lazer e turismo em meio citadino, tomando o Orquidário Municipal de Santos como estudo de caso. Como procedimento metodológico utilizou-se de pesquisa de campo por meio de questionários com perguntas fechadas, abertas e semi-abertas, aplicados a usuários do Orquidário pelo período de doze meses consecutivos (01/03/2000 a 28/02/2001). As conclusões tiradas mostram que parque urbano desempenha relevante papel como local de lazer e de turismo. Enquanto espaço de uso público, permite o desenvolvimento de atividades educativas, culturais, recreativas e de descanso ao ar livre. E, enquanto área verde, possibilita o desenvolvimento de espécies botânicas espontâneas e representa significativo refúgio para a fauna silvestre.

ABSTRACT: This article talks about the urban parks and the important role as a place for the leisure and tourism in the city, and to this work Orquidário Municipal de Santos was chosen as study case. The methodology used to research was based on questionnaires with closed, opened and half-open questions, applied to the visitants of Orquidário for the period of twelve months (from March 01, 2000 to February 02, 2001). The conclusions show that Santos urban park plays an important role as local of leisure and tourism activities. While public square, the visitants can enjoy the use of the place to educative and cultural activities and as a outdoors place to spend their free times. While as a square garden, it makes possible the development of spontaneous botanical species and represents significant shelter for the wild fauna.

Introdução

O Orquidário Municipal de Santos é um parque urbano com 22.240 m2, localizado a cerca de 200m da orla marítima, no bairro do José Menino, Município de Santos/SP, e que recebe uma média anual de 260.000 visitantes. Este universo é composto não só por usuários locais e de cidades próximas, como também do interior do Estado e ainda de outros estados e países, atraídos pela peculiaridade da exposição do seu acervo biológico. Inaugurado em 11/11/1945, para ser, exclusivamente, um mostruário vivo de orquídeas, cultivadas tanto em ripados como em troncos de árvores, evoluiu ao longo desses anos para um parque zoobotânico. Sua densa massa vegetal arbóreo-arbustiva, constituída de espécies nativas e exóticas, além de espontâneas (em especial epífitas e trepadeiras) propicia a atração e reprodução de espécies de diferentes grupos zoológicos. A fauna em exposição constitui-se de peixes, répteis, aves e mamíferos, a maioria nativa e algumas inclusive constam na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção editada pelo IBAMA -Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis. Diferentemente de outros parques zoológicos, que em sua maioria expõem espécimes unicamente em recintos, no Orquidário parte da coleção zoológica circula livremente em meio à vegetação e por suas sinuosas alamedas. Por outro lado, parte encontra-se exposta em recintos abertos e fechados, e destes últimos, destaca-se, como uma das maiores atrações do Parque, o “Viveiro de Visitação Interna” ou “Interativo” que permite a circulação do público em seu interior e o contato com os animais sem nenhum tipo de barreira física. Construído sobre um terreno antes utilizado como campo de futebol, o Orquidário conserva, basicamente, até hoje, as características originais de suas edificações. Sua estruturação espacial induz ao lazer contemplativo - ao permitir o contato com o verde - e às atividades educativas tanto formal como informal, tornando-o o segundo atrativo turístico em número de visitantes para a principal modalidade de turismo do município – sol e praia.

Pela referência que o Orquidário representa como parque urbano para a cidade de Santos e região, buscou-se – a partir da análise do perfil do visitante do Parque, sua motivação para a visita e sua avaliação dos atrativos desse equipamento - reunir subsídios a um Plano de Gestão, visando sua adequada conservação, levando em conta possibilidades de aspectos gerais dessa análise poderem ser extrapolados e aplicados a outros parques urbanos.

Material e Métodos

O procedimento metodológico consistiu na técnica de investigação com a aplicação de questionário, o que permitiu traçar o perfil biossocioeconômico dos visitantes do Orquidário bem como proceder a uma análise crítica da adequação do equipamento a seu uso público. Inicialmente, verificou-se a aplicabilidade do questionário por meio de pesquisa piloto realizada num final de semana de outubro de 1999, para identificar variáveis como interesse na participação dos visitantes e nível de compreensão das questões formuladas. Após efetuarem-se as correções necessárias, procedeu-se à aplicação do questionário definitivo durante um ano, a partir de 01 de março de 2000, num total de 1320 pesquisas. O questionário foi estruturado com perguntas fechadas (dicotômicas e múltipla escolha), abertas e semi-abertas, elaboradas em português, inglês e espanhol - para facilitar a compreensão dos turistas estrangeiros. Trabalhou-se com uma amostra mensal de 110 questionários, aplicados, em média, 03 questionários/dia. A determinação do tamanho da amostra baseou-se na média mensal de visitantes dos anos anteriores (de 1998 a 2000) que variou de 14.000 a 30.000 pessoas/mês. De acordo com a “Tabela de Determinação de Amplitude de uma Amostra” (GIL, 1998:101), o tamanho da amostragem é adequado para um nível de confiança de 95% e uma margem de erro de 10%.

Os visitantes pesquisados foram abordados ao saírem do Parque, selecionados aleatoriamente dentro do grupo de pessoas com idade mínima de 13 anos e em condições de responderem ao questionário. Conquanto o Orquidário recebe um número significativo de excursões escolares (tanto sem acompanhamento como aquelas com visita monitorada), porém optou-se por não pesquisar este público específico para que os resultados não mascarassem aqueles obtidos junto a visitantes que encontravam-se em lazer no Parque.

Os dados obtidos foram submetidos à análise utilizando planilha de cálculos (Excell 7.0) para obtenção de dados percentuais. A abrangência do período visava atingir o público que difere ao longo do ano, em decorrência da sazonalidade.

Resultados e Discussão

Embora tenha sido previsto como hipótese que, em função da sazonalidade, os resultados da pesquisa seriam diferenciados ao longo do ano, o que se constatou durante todo o período, foi uma constância nas respostas e uma uniformidade de sugestões e críticas nas questões abertas. Os resultados encontram-se apresentados nos Quadros I a IV.

QUADRO I - PERFIL DO VISITANTE

SEXO
Feminino
Masculino

63,70%

36,30%


ESTADO CIVIL
Solteiro
Casado
Separado
Viúvo

26,24%

63,18%

5,44%

5,14%


FAIXA ETÁRIA
(anos)

13 A 19
20 a 29
30 a 39
40 a 49
50 a 59
60 a 69
70 a 79
Não Informou

5,41%

25,16%

38,30%

16,32%

5,57%

4,31%

1,67%

3,26%


ESCOLARIDADE
1º Grau Completo
1º Grau Incompleto
2º Grau Completo
2º Grau Incompleto
Superior Completo
Superior Incompleto

10,05%

7,12%

32,12%

8,14%

31,41%

11,16%


NÍVEL DE RENDA (R$)
Até 1.000
De 1.000 a 2.000
De 2.000 a 4.000
Acima de 4.000

41,86%

30,39%

18,45%

9,30%


Como observa-se no Quadro I - "Perfil do Visitante”, a maioria é casada, com nível de escolaridade paritária entre o 2º Grau completo e o Nível Superior completo; a faixa etária prevalecente é de 30 a 39 anos, embora o grupo de 20 a 29 também possua grande representatividade; o nível médio de renda até 1.000 reais sobrepujou os demais, embora o nível que varia de 1.000 a 2.000 também seja significativo. No universo das pessoas pesquisadas houve predomínio das mulheres sobre os homens, uma vez que estes mostraram-se mais resistentes a participar da pesquisa.

QUADRO II - ORIGEM DO VISITANTE

CONTEXTO GERAL

Santos

Baixada Santista

Litoral Norte

São Paulo

Grande São Paulo

Interior de São Paulo

Outros Estados

Outros Países

45,39%

17,91%

3,10%

10,10%

7,00%

5,82%

3,98%

6,70%


BAIRROS DE SANTOS

Entorno

Outros

46,92%

54,08%


MUNICÍPIOS DA BAIXADA ANTISTA

Entorno

Outros

83,46%

16,54%


OUTROS PAÍSES

América do Norte

Europa

América do Sul

Oceania

Ásia

38,00%

38,00%

13,64%

3,03%

7,33%



Conforme demonstrado no Quadro II - “Origem do Visitante” os oriundos de Santos predominam significativamente sobre os demais e o número daqueles de São Paulo e demais municípios da Grande São Paulo é próximo ao de visitantes da Baixada Santista. Detalhando os dados obtidos quanto ao usuário santista, detectou-se uma paridade entre os residentes em bairros limítrofes (incluindo o próprio bairro do José Menino, onde o Orquidário encontra-se inserido) e os de outros bairros da cidade, demonstrando que a localização do Parque, a facilidade de acesso associada à sua antigüidade fazem-no constantemente procurado pelo munícipe, independendo do bairro onde resida. No contexto do Estado de São Paulo, ocorreu o predomínio de visitantes da Capital e demais municípios da Grande São Paulo com relação ao interior e equivalente em número aos demais municípios da Baixada Santista. Quanto ao turista estrangeiro, só não foram entrevistados os visitantes originários do continente africano, ocorrendo paridade entre os da América do Norte e da Europa.

QUADRO III - ASPECTOS DAS VISITAÇÃO

Primeira Visita

Sim

Não

23,31%

76,69%


Média Mensal de Freqüência

Diária

Uma vez

Duas ou mais vezes

Esporadicamente

2,71%

10,81%

15,85%

70,63%


Período de Permanência

De 1 a 2 horas

De 2 a 3 horas

De 3 a 4 horas

4 horas ou mais

66,12%

26,71%

4,89%

2,28%


Forma de Visitação

Sozinho

Com amigos

Com namorado(a)

Com a família

Com excursão

Outros

2,53%

6,58%

5,23%

79,09%

4,05%

2,52%


Estímulo para Visitação

Folheteria

Indicação de amigos e parentes

Imprensa

Sinalização da cidade

Agência de Turismo

Outros

3,42%

46,25%

7,82%

6,03%

1,14%

35,34%


OBJETIVO da Visita

Usufruir do Ambiente

Observar os animais

Apreciar as plantas

Todos os motivos

15,77%

13,08%

3,97%

67,18%


Atrativos preferidos

Todo o conjunto

Animais

Plantas

Lago

Outros

56,12%

26,52%

10,18%

2,05%

5,13%



De acordo com o Quadro III - "Aspectos Gerais da Visitação", houve predomínio tanto dos entrevistados que já conheciam o Parque, como das pessoas que o visitam acompanhadas pela família e também daquelas que freqüentam o Parque esporadicamente. O período de permanência declarado pela maioria dos entrevistados, independentemente do local de sua origem, é de uma a duas horas. Resultado previsto, considerando-se a pequena dimensão do Parque e os tipos de atividades de recreação e lazer que o mesmo oferece. Quanto ao estímulo à visita, grande parte dos entrevistados teve conhecimento do Orquidário por meio de sugestão de amigos e parentes, enquanto outras formas de indicação como folheteria, imprensa, sinalização na cidade e agências de turismo obtiveram votação inexpressiva, demostrando a influência que a opinião favorável dos freqüentadores tem sobre o Parque. Interessante observar que no item outros, a grande maioria das declarações refere-se ao fato de os visitantes serem locais e declararem-se conhecedores do Parque “desde sempre". As atividades associadas ao lazer contemplativo, em virtude do conforto ambiental criado pela densa massa vegetal, são apontadas pela maioria dos entrevistados como o objetivo principal da visita e do retorno ao Orquidário. Dentre os vários atrativos do Parque, o que mais chamou a atenção do visitante foi todo o conjunto (animais, plantas, lago, a coleção de orquídeas), predominando significativamente sobre os demais, não recebendo a coleção de orquídeas - motivo da criação do Parque - nenhum destaque especial. A intensidade da visitação varia de acordo com as condições meteorológicas, pois o Parque possui poucos locais onde o público pode abrigar-se durante as intempéries. Tanto durante a temporada (de verão ou de inverno) como fora dela, a visitação é mais intensa nos finais de semana e feriados com aumento gradativo no número de visitantes a partir do meio da semana. A concentração de pessoas ocorre, geralmente, entre as 11:00 horas e as 16:00 horas do dia.

QUADRO IV - AVALIAÇÃO

Geral

Ótima

Boa

Regular

Péssima

56,03%

36,19

7,30%

0,48%


Infra-estrutura

Ótima

Boa

Regular

Péssima

31,45%

55,20%

11,13%

2,22%


Aspectos Positivos

Sossego e ar puro

Contato com o Verde

Conservação do Parque

Todo o conjunto

Animais soltos

Aspecto de Mata

Outros

29,19%

16,31%

15,29%

10,91%

10,90%

9,37%

8,03%


Aspectos Negativos

Pouca diversidade de animais

Poucos bancos, bebedouros e sanitários

Falta de Área para alimentação

Poucos eventos

Poucas orquídeas em exposição

Nenhum

Outros

35,95%

18,07%

8,16%

6,51%

5,79%

12,60%

12,92%



A partir do Quadro IV - "Avaliação", infere-se que tanto no aspecto geral, quanto à qualidade e manutenção da infra-estrutura o Parque foi avaliado positivamente (entre bom e ótimo). Quanto aos elementos que mais agradaram, destacaram-se o bem-estar que o ambiente transmite, ar puro e o contato com "a natureza" (fauna e flora). No que concerne às deficiências apontadas pelos entrevistados, o interesse em observar maior diversidade de animais destacou-se dentre os demais itens. Embora a falta de área para alimentação tenha sido destacada como uma deficiência, é importante frisar que é vedada a entrada de visitantes portando alimentos, como forma de preservar a saúde dos animais do Parque.

Conclusões

A pesquisa de campo realizada no Orquidário Municipal de Santos municiou dados que permitiram constatar na prática diária o que havia sido subsidiado pela literatura: parques urbanos possuem um caráter distintivo na paisagem urbana e assumem relevante papel na vida cotidiana dos cidadãos, por constituírem espaços que servem como base para as atividades de lazer e recreação ao ar livre e que acomodam múltiplos usos para os residentes locais, especialmente àqueles que não têm acesso a outra áreas verdes fora do perímetro urbano. Além das atividades de lazer e recreação, possibilitam o desenvolvimento de atividades educativas, culturais e de descanso, importantes funções ligadas às necessidades físicas, psíquicas e sociais dos indivíduos. Em função dos seus elementos bióticos, representam significativo refúgio da vida silvestre.

Por outro lado, áreas verdes urbanas, dada a acessibilidade de sua localização, permitem uma utilização não só por parte de usuários locais como de visitantes turistas, principalmente quando seu uso vem acompanhado pela oferta de equipamentos, serviços e atrações. Na verdade, não só parques urbanos, mas vários outros elementos da paisagem urbana raramente são produzidos ou construídos exclusivamente para turistas, ao contrário, em primeira instância para os habitantes locais e sua utilização pelo turismo decorre de diversos fatores: valorização cultural; marketing; situação geográfica favorável; modismo; além do vínculo afetivo que se estabelece entre os moradores e o seu meio ambiente urbano.

A partir de uma análise geral do papel dos parques urbanos como espaços de lazer e de turismo, pôde-se proceder à análise de forma particular do objeto deste estudo. Em alguns aspectos o Orquidário assemelha-se a outros parques, pois desempenha relevante papel como espaço de lazer para moradores da região, especialmente santistas; é um equipamento urbano para uso turístico complementar para cidade de Santos, além de constituir importante opção de atividades de estudo do meio para estudantes em diferentes níveis escolares.

O Orquidário é o resultado do plantio de espécies vegetais que serviram como suporte para o desenvolvimento de orquídeas sem critério técnico quanto à sua procedência. Talvez, aí resida sua característica mais singular, tornando-o diferente de qualquer outro parque urbano: a organização do seu acervo biológico, mormente no que tange à área botânica (devido ao grande desenvolvimento arbóreo-arbustivo) e a forma particular de exposição das orquídeas. Deve-se levar em conta, que o objetivo primeiro da criação do Parque foi o de permitir o desenvolvimento das orquidáceas epífitas, como se estivessem em seu ambiente natural, o que pode ser considerada uma preocupação pioneira quando comparada a outros parques públicos brasileiros. No que se refere à coleção zoológica, o fato de parte circular livremente dentre a vegetação, contribui para acentuar o caráter peculiar do Orquidário.

Interessante observar que atualmente o que norteia as instituições zoobotânicas é a concepção de exposição integrada de fauna associada à flora (tanto no Brasil como no exterior) objetivando recriar o ambiente dessas espécies o mais próximo possível do seu original. No Orquidário esse fato ocorreu sem planejamento (pelo menos em seus primórdios), e hoje o parque tem uma exposição tematizada, levando seus visitantes a sentirem-se no “interior de uma mata”, já que além das orquídeas, há também grande diversidade de outras espécies de epífitas, introduzidas espontaneamente pela fauna visitante. Outro aspecto a se considerar e a valorizar é sua historicidade, pouco ou nada conhecida pelos seus freqüentadores e pela comunidade santista de forma geral. Divulgar a história da criação do Parque, tornando-a conhecida, e também reforçar seu papel como espaço que permite o desenvolvimento de atividades de lazer “passivo” e de educação formal e informal é uma forma de fortalecer os laços afetivos que a comunidade tem com o Orquidário, e assim assegurar sua preservação. No entanto, somente essa identificação entre a comunidade e o parque não basta para garantir sua preservação; essa só estará assegurada por meio de instrumentos legais capazes de protegê-lo de intervenções sem critérios evitando assim, o que o Prof. Yázigi denomina de vandalismo na paisagem urbana e natural (YÁZIGI,1999b).

A análise crítica dos resultados da pesquisa permitiu elaborar algumas recomendações a fim de melhorar a qualidade da organização do Parque. A efetiva implantação dessas recomendações só ocorrerá a partir de um plano de gestão específico que preserve e valorize os componentes biológicos, em especial as orquídeas, além de contemplar os papéis do Orquidário como espaço de lazer para os residentes e de turismo para os visitantes. Em primeira instância, garantir a preservação física e biológica do Parque enquanto patrimônio biológico e cultural da cidade por meio das posturas municipais (plano diretor, lei de uso e ocupação do solo, lei de proteção ambiental, entre outras), tendo sempre em vista que qualquer intervenção que se proceda, devem ser consideradas questões fundamentais relativas ao caráter e às funções desse espaço urbano e também à sua qualidade paisagística.

Para não interferir na dinâmica do Parque o plano de gestão deverá ser revisado e atualizado periodicamente, além de contemplar os aspectos administrativo-organizacional, financeiro e físico (submetendo a uma análise criteriosa qualquer possível intervenção física), orientando o planejamento do Orquidário a curto, médio e longo prazos.

O(s) gestor(es) desse plano devem sempre ter como norte o aprimoramento do acervo biológico, a preservação das edificações originais e o incentivo do uso desse espaço para o desenvolvimento de atividades de lazer e educativas. Lembrando que “é um fato inquestionável que os administradores de áreas protegidas [porque não de qualquer equipamento turístico ou não?] precisam encontrar pessoas (turistas, cientistas, educadores, habitantes locais) que conheçam e amem a área que administram. É o apoio contínuo dessas pessoas que irá garantir as políticas e os orçamentos necessários à administração” (WALLACE, 1995:118).

Quanto à gestão dos recursos financeiros, incluindo a verba adquirida na bilheteria do Orquidário ou em parcerias, deveria ser um atributo do gestor, certificando-se de sua exclusiva aplicação no Parque. Em consonância com a legislação vigente, estabelecer parcerias com a iniciativa privada, instituições educacionais e de pesquisa com intuito de obter verbas, formação, capacitação e treinamento de mão-de-obra e aquisição de equipamentos. Especificamente no que tange à mão-de-obra, além daquela pertencente ao quadro fixo do Parque, também contar com monitores e guias que promovam visitas orientadas para o público em geral (com dias e horários previamente determinados). O treinamento e aperfeiçoamento da mão-de-obra tanto interna (em todas as funções) como “voluntária” é fundamental para assegurar a qualidade dos serviços prestados. Outro aspecto importante a ser considerado, dentro do seu papel pedagógico, encontra-se na possível formação de um centro de referência, estudos e documentação, sobre orquídeas, em especial as da Serra do Mar, conjuntamente com a possibilidade de estudo in loco desse grupo vegetal além de outros componentes do acervo biológico.

Em função da historicidade do Parque estar diretamente ligada à unidade da Sabesp situada nos fundos do Orquidário (antiga Usina Terminal, hoje Estação de Tratamento), seria interessante desenvolver um trabalho conjunto de divulgação, e de visitas orientadas abordando essa temática.

No que tange à infra-estrutura especificamente, adequar os equipamentos do Parque como sanitários, bebedouros, áreas de circulação e visitação às crianças, às pessoas da terceira idade e àquelas que possuam alguma limitação física. Restringir o acréscimo de edificações, se possível eliminar as desnecessárias ou incompatíveis com a arquitetura original, levando sempre em consideração as características arquitetônicas originais antes de qualquer intervenção física.

Concernente ao patrimônio biológico, implementar definitivamente as intervenções propostas no Plano Diretor de 1990, que previa o aumento aliado ao aprimoramento do acervo de orquídeas, além da substituição gradativa da fauna e flora exóticas por espécies nativas, preferencialmente da Mata Atlântica.

O Orquidário Municipal representa na cidade um referencial enquanto área verde e equipamento de lazer e turismo. Cabe ressaltar que as proposições ora elencadas referem-se ao parque urbano Orquidário Municipal de Santos; logo algumas não podem ser generalizadas, considerando-se a especificidade do Parque e que sua aplicação dependerá da avaliação de pessoas diferentes, em lugares diversos e num contexto completamente distinto deste em que se encontra inserido esse objeto de estudo.
 
1 Bióloga da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de Santos desde 1984. Trabalhou no Orquidário Municipal de Santos de 1984 a 2000. Mestre em Turismo e Meio Ambiente pelo Centro Universitário Ibero-Americano, em 2001.
 
 
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