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Patrimônio na metrópole: propostas para um roteiro judaico em São Paulo 1 - PARTE 1
Andréa Kogan 2
 
Resumo: O turismo está se segmentando e a cada dia surgem novas modalidades. Este trabalho enfoca o segmento do turismo étnico mais especificamente na metrópole paulistana. Enfatizando questões como lazer na metrópole e identidade cultural, a pesquisa sugere um roteiro étnico baseado na alimentação judaica, além de indicar atrativos no entorno dos pontos gastronômicos. O bairro do Bom Retiro recebe atenção especial, juntamente com atrações turísticas não judaicas nele localizadas e no bairro vizinho, o bairro da Luz. Palavras-chave: turismo, segmentação de mercado, turismo étnico, metrópole, São Paulo, judaísmo.



Abstract: Many segmentations of tourism are being developed. This procect will focus the ethnic Jewish tourism in the city of São Paulo. Topics as: leisure in the metropolis and cultural identity will be analised as well as an ehtnic tour will be suggested based on Jewish gastronomy. Besides the restaurantes, coffee-shops and markets, other attractions around them will be indicated. The district of Bom Retiro deserves a special attention together with non-Jewish attractions located nearby (Luz district). Key-word: tourism, market segmentation, ethnic tourism, metropolis, São Paulo, judaism.










Introdução

Há várias escolas judaicas espalhadas pelo Brasil. Nas maiores cidades do país, onde a comunidade judaica é maior e mais organizada, como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, o número de escolas é mais expressivo (embora este número venha decaindo nos últimos anos com o fechamento de algumas como o Renascença no bairro do Bom Retiro na cidade de São Paulo). Só na cidade de São Paulo as mais conhecidas são: Colégio I.L. Peretz (bairro da Vila Mariana), Escola Brasileira Israelita Chaim Nachman Bialik (bairro de Pinheiros), Colégio Hebraico Brasileiro Renascença (bairro de Higienópolis), além de escolas de orientação ortodoxa que seguem todos os rituais prescritos na Bíblia judaica. Dentre as disciplinas básicas como português, geografia, história, matemática e todas as outras que fazem parte do currículo obrigatório brasileiro, as crianças têm contato com outras matérias ligadas ao judaísmo. Essas disciplinas são: Hebraico (gramática), Geografia de Israel, Bíblia e História Judaica.

A disciplina História Judaica é oferecida, na maioria das vezes, desde o ensino fundamental I. Os alunos aprendem a história do povo judeu até os dias atuais. Vários assuntos merecem ênfase neste contexto, dentre eles: a criação do Estado de Israel em 1948, e o nazismo que atingiu o seu ponto mais alto na Segunda Guerra Mundial. Este último item é estudado com o principal objetivo de fazer com que nenhuma das novas gerações de judeus que estão se formando desconheça a tragédia em que, seis milhões de pessoas judias, foram mortas em campos de concentração. É necessária a lembrança recorrente para que tal fato não volte a acontecer jamais: o nazismo sob qualquer forma e o extermínio de seis milhões de judeus. As crianças que freqüentam escolas judaicas vêem filmes e lêem livros sobre o assunto desde que começam a manter contato com as disciplinas mencionadas anteriormente.

Os estudos e livros publicados sobre o assunto na Diáspora 3 são inúmeros e surgem novos a cada dia. Este é o assunto mais abordado sobre judaísmo nos últimos anos. Mas, por mais que tal tragédia deva ser recontada na escola para se preservar na memória, a cultura judaica não pode se fixar exclusivamente neste tema. Existem muito mais dados para tratar e refletir, como em qualquer grupo étnico-religioso. Há uma riqueza de características, rituais e costumes que precisam ser mais bem explorados, para que não apenas o tema “Holocausto” seja enfatizado e lembrado…

De acordo com Bernardo Sorj: “O anti-semitismo tem sido uma das principais obsessões nos estudos judaicos deste século...” 4. Desta maneira, é preciso ressaltar que há necessidade de uma maior abrangência nos assuntos relativos ao judaísmo e que, a despeito de os estudos sobre o Holocausto continuarem (e devem), outros temas também podem ser abordados.

O anti-semitismo é um fato recorrente na história. No Brasil, devido a inúmeras razões, tal fato não ocorre tão forte e abertamente. Em alguns períodos da história brasileira, como na era Vargas, o anti-semitismo ter-se-ia manifestado com maior evidência. Mas não é o único fenômeno possível de ser estudado para entender as comunidades judaicas do nosso país.

O Brasil recebeu um grande número de imigrantes vindos de diversos países. Mais precisamente a partir de 1891 quando a Constituição Brasileira daquele ano separou o Estado da Igreja. Assim, foi possível maior liberdade religiosa no país, e estrangeiros de outras crenças que aqui chegavam podiam praticá-las e permanecer fiéis à sua religião.

Judeus de diversas partes do planeta chegaram ao Brasil desde então 5. Instalaram-se em São Paulo e chegaram de países tais como: Lituânia, Polônia, Bessarábia (localidade entre a Romênia e a Rússia), Hungria, Alemanha, Líbano, Egito, Síria, dentre outros.

São Paulo foi receptiva aos imigrantes, pois oferecia uma nova perspectiva de vida aos recém-chegados. Alguns bairros da cidade serviram de moradia aos judeus e a vários imigrantes, mas o bairro do Bom Retiro ainda está mais presente na memória coletiva, também, fortemente marcado como um bairro judaico. Por que exatamente o Bom Retiro? Henrique Veltman, no livro A história dos judeus em São Paulo, comenta:

“Provavelmente, a proximidade com a estação ferroviária explica a atração que o Bom Retiro exerceu sobre os judeus no início do século. Afinal, era de trem que eles chegavam do porto de Santos à bela Estação da Luz, ao lado da rua José Paulino”
.
Atualmente, o Bom Retiro apesar de conservar muitas características judaicas como restaurantes típicos e lojas, já não é mais um bairro (exclusivamente) judaico. Um grande número de coreanos e, mais recentemente de bolivianos e peruanos, compõem a região.

Além do Bom Retiro, vários outros bairros da cidade serviram como pano de fundo para uma vida judaica no Brasil. Contemporaneamente, os judeus não vivem em comunidades fechadas apenas em determinadas localidades ou bairros. Com o passar dos anos, houve uma migração interna juntamente com a expansão da cidade de São Paulo. Podemos nos referir a alguns bairros como: Higienópolis (que também possui características “judaicas”, como veremos posteriormente, e ainda com um grande número de judeus); Jardim Europa, Morumbi, Santana, Cerqueira César, Vila Mariana, Ipiranga, etc...

É necessário frisar que quando a comunidade judaica “migra” de bairro para bairro há também a formação de sinagogas diversas e pontos de alimentação nos bairros para os quais ela se expande. Hoje, há inúmeras sinagogas espalhadas pela cidade de São Paulo. Ainda há uma maior concentração no bairro do Bom Retiro e Higienópolis, mas também se identificam sinagogas na Bela Vista, no Morumbi, e no Jardim Europa, por exemplo. A comunidade existe enquanto pode estar em contato com as raízes e, em particular, com a religião. Por mais que uma mudança signifique ruptura, essa leva à necessidade de permanecer e refazer sempre o contato com os fundamentos da sua fé (como a construção de novas sinagogas e/ou adaptação de espaços já existentes para que lá funcionem sinagogas).

Na metrópole de São Paulo, os judeus tiveram a oportunidade de manter as suas características religiosas e ainda incorporaram traços brasileiros aos seus costumes.

A cidade de São Paulo conta com diversos povos, etnias e culturas. Cada povo, etnia, ainda consegue manter traços culturais próprios nessa cidade tão plural e diversa. Os traços de cada etnia podem ser reparados na gastronomia, na prática de diversas religiões e nas diferentes contribuições que cada povo deixa como registro na cidade.

São Paulo, uma das metrópoles 6 mundiais e entre as principais cidades brasileiras, é a que mais recebe turistas que vêm a negócios. Assim como o turista que vem buscar na cidade pontos de referência mais conhecidos, como o Museu do Ipiranga, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), a Catedral da Sé ou o Parque do Ibirapuera; outros turistas vêm em busca do diferencial cultural como atrativo. Tais viajantes não podem ser enquadrados na categoria de “turistas de massa”, os quais em grandes grupos são levados em ônibus fretados para passeios pela cidade.

Um grande número de pessoas procura um diferencial na oferta turística, ou melhor, procura lugares onde não encontrará hordas de turistas afoitos por atrações de qualquer tipo, mas procuram pessoas que compartilhem a mesma filosofia de vida e que não queiram ver a mesma coisa que milhares de outras pessoas estão vendo. Preferem um produto diferenciado, que seja elaborado de acordo com o perfil individual do viajante para que possam identificar-se com o local para o qual irão. A chamada segmentação do mercado turístico vem crescendo e especializando-se, e assim novas tendências de turismo surgem para que pessoas com interesses diversos possam viajar e satisfazer-se em viagens de acordo com suas motivações.

Analisando por esse lado, o judaísmo, com suas características e tradições, tem potencial para atrair um público interessado em conhecer tais peculiaridades. Mas, o que visitar na cidade de São Paulo? E quem estaria interessado nesses atrativos?

Várias são as marcas judaicas na cidade, mas uma com grande apelo é a gastronomia. Existem diversos restaurantes, lanchonetes e mercearias espalhadas por São Paulo. Tais locais recebem não só a população judaica, mas também pessoas que buscam diferentes pontos de alimentação que vão além do tradicional (como cantinas italianas e cadeias de fast food). Além dos serviços referentes à alimentação, há clubes, livrarias e espaços culturais, sinagogas e entidades beneficentes que incitam a curiosidade de quem vem procurar nesta metrópole uma maneira diferenciada de “fazer turismo”, que poderíamos chamar de turismo étnico.

Mas o que se pode entender por etnia? De acordo com Stuart Hall: “etnias sãs as características cultuais partilhadas por um povo, como língua, religião, costume, tradições e sentimento de lugar”. 7 Se então pensarmos em turismo étnico, a visitação a lugares de essência judaica, pode ser considerada parte de tal segmento.

Como já havia sido comentado, o turismo segmentado reforça a idéia de que as pessoas estão procurando viajar com indivíduos e para lugares onde haja semelhança com seu jeito de pensar e ver o mundo. Ou procuram viajar para lugares de interesse particular.

Atualmente, diversas formas de turismo 8 são exploradas, dentre elas: turismo para singles, turismo de pesca, turismo rural, turismo GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) dentre inúmeras outras.

O que este trabalho propõe é uma sugestão de roteiro étnico na cidade de São Paulo. Não só um roteiro para eventuais turistas, mas para o lazer do paulistano que, às vezes, não toma conhecimento da multiplicidade de atrativos do lugar onde vive.

Tal sugestão para um eventual roteiro toma por base o patrimônio judaico dentro da cidade de São Paulo. Entende-se por patrimônio bens da natureza material e imaterial, como descreve a Constituição de 1998, seção II artigo 216 9. Antes da última Constituição brasileira (1988) eram considerados patrimônio só monumentos e edificações, a partir de então, pudemos pensar na noção de patrimônio como algo mais amplo. Algo que não necessariamente pudesse ser tocado ou tombado. A gastronomia faz parte do patrimônio cultural, conforme citado acima, que qualifica como patrimônio de um povo: bens de natureza material e imaterial. A alimentação, então, justifica-se como parte principal da proposta para um roteiro judaico (étnico) na cidade de São Paulo, que sugeriremos.

Esta sugestão de roteiro abrange primeiramente pontos de alimentação judaicos dentro da cidade de São Paulo. Entende-se por isso, restaurantes, lanchonetes e mercearias. Além de um mapeamento e discussão crítica sobre tais lugares, será analisado o entorno destes atrativos. Os atrativos localizados no entorno imediato são constituídos por livrarias especializadas, teatro, clubes e entidades beneficentes.

Cabe ainda ressaltar que o Bairro do Bom Retiro, por sua importância e por ser lugar marcado na memória de todos os paulistanos como bairro multicultural (e por muitos, ainda que numa visão antiga, um bairro judaico), contará com outros atrativos propostos, além dos judaicos, que comporão o roteiro. Atrativos como o Parque da Luz, a Pinacoteca e o Museu de Arte Sacra estarão presentes nas propostas. Não seriam característicos de um roteiro étnico, mas sim como sugestões de visita pela importância e pela localização no bairro. De acordo com Mário Jorge Pires,” é preciso valorizar o caráter plural de atrações em uma dada localidade”. 10

O lazer do paulistano está cada vez mais diversificado o que justifica a procura por opções de passeios. Além disso, quando a globalização aponta que o mundo está sendo transformado numa grande aldeia, as pessoas procuram os seus semelhantes. Quando tais pessoas viajam, podem procurar um diferencial, mas também procuram suas raízes, sua identidade e, talvez tendam a se diferenciar numa sociedade globalizada e pós-moderna. É de fato, interessante observar que quando as pessoas viajam e encontram algo que as faz voltar ao passado, ou voltar seus pensamentos para os ancestrais, essas situações deixam-nas mais confortáveis e produzem uma sensação de “estar em casa”, uma sensação de “bem-estar” psicológico.

Quando um brasileiro viaja ao exterior e ouve alguém falando português ou se depara com um restaurante de comida brasileira, passa a enxergar aquele lugar de uma maneira mais aconchegante do que os demais, que não tem nenhum traço de sua terra natal. O turista percebe que a sensação de bem – estar se deve ao fato de encontrar algo similar aos seus modos de viver num país totalmente diferente do seu, numa cultura diferente da sua.

Sob a ótica judaica, isto também acontece. Não só por nacionalidade, mas por etnia. Casos, por exemplo, como ver uma sinagoga num outro país, ou até numa outra cidade ou ter contato com pessoas falando ladino (língua similar a espanhola, falada por judeus sefaradim), iídiche (língua comum dos judeus da Europa Oriental oriunda do Alemão) ou hebraico nessas mesmas situações, também traz uma sensação de sentir-se em casa.

Partindo desses pressupostos o trabalho se organizara em capítulos sobre temas essenciais relativos ao turismo étnico, como a segmentação do mercado turístico, a imigração, a alimentação judaica e sugestões para um eventual roteiro diferenciado na cidade de São Paulo. A proposta visa tanto o lazer dos paulistanos, judeus ou não, como o turismo dos brasileiros e estrangeiros que visitam a cidade.



Tendências contemporâneas do turismo

1. Segmentação do mercado turístico
Faz-se necessário, antes do início da discussão sobre o turismo segmentado e as diferentes tipologias, uma explanação sobre alguns conceitos relacionados à organização das viagens e a linguagem do turismo que serão, por diversas vezes, mencionados neste trabalho.

•Turismo da massa- desde o período pós-guerra (1945) até os dias de hoje, o mundo passa por uma revolução tecnológica ou, ainda, uma outra revolução industrial. A velocidade das informações e dos transportes contribuiu muito para o crescimento do turismo. As viagens aéreas também aumentaram quantitativamente, assim como os vôos fretados. O número de viajantes foi se tornando cada vez maior e vários destinos turísticos foram melhor organizados, até mesmo construídos ou `criados` para o recebimento de turistas. Atualmente, vários destinos tornaram-se pólos de atração mundiais, pois recebem um número de turistas bastante expressivo durante o ano. Na sua maioria, eles chegam em excursões. Orlando nos Estados Unidos, Paris e como, por exemplo, no Brasil, a cidade de Porto Seguro na Bahia. O turismo de massa aponta núcleos receptores do planeta que recebem grandes quantidades de viajantes, em grupos que chegam em excursões organizadas por operadoras de turismo, na maioria das vezes, durante a alta temporada que caracteriza principalmente pelo período de férias escolares.

•Pacote turístico - é a situação em que o turista compra a passagem aérea, a estadia em um hotel, traslados de chagada e saída do local, ingressos para atrações, assistência de guias de turismo, dentre outros serviços de uma determinada agência para uma viagem nacional ou internacional. Geralmente, as viagens são em grupo e vários serviços fazem parte do pacote, como descrito anteriormente.

O homem contemporâneo e pós-moderno possui idéias diferentes no que diz respeito às viagens e o lazer. Para esse indivíduo, a forma comum de viajar comprando pacotes turísticos não é mais a fórmula certa de diversão e entretenimento, por mais que o turismo de massa consiga atrair muitas pessoas.

Quais são as mudanças que estão ocorrendo no mercado turístico? Quais as razões dessas mudanças? “As empresas e os consumidores estão buscando novos caminhos para o mercado turístico, o que se observa é a segmentação como um dos caminhos escolhidos .(...) Seguindo as tendências atuais, substituem a política dos pacotes turísticos (preço baixo pela quantidade de fluxo) por viagens – padrão personalizadas a um preço acessível”. 12

Novos caminhos para o mercado turístico são necessários em virtude da nova postura do viajante. O viajante não mais se contenta com passeios que não se adeqüem ao seu perfil, ou com companheiros de viagem que tenham características e estilos de vida que não se assemelham ao seu. Como observa Krippendorf, quando viajamos não nos tornamos de repente uma outra pessoa porque somos turistas 13. Assim sendo, a semelhança com os companheiros é fator importante para melhor desfrutar a viagem. Os turistas continuam querendo manter amizades similares as que têm quando não são turistas. Não que o diferente seja absolutamente desinteressante e impossível para o convívio, mas no momento da viagem e de extrema importância buscar o personalizado e o similar.

Estratégias de marketing são imprescindíveis na busca pelo cliente ideal. As empresas de turismo, como operadoras turísticas, agências de viagens e até mesmo consultores que trabalham por conta própria (personal travel consultants), precisam saber quem é o seu cliente para poder organizar e mesmo criar o seu produto a altura do futuro turista, ou adaptar roteiros já existentes para públicos diferenciados.

Em um pacote turístico, o grupo precisa se adaptar aos horários propostos, aos comandos do guia de turismo e aos companheiros de viagem. A conciliação de todos os interesses e a satisfação garantida da totalidade do grupo não são aspectos fáceis de serem cumpridos.

“The old saying, `You can`t please all the people all time, certainly holds true for tourism service suppliers. Since you can`t please everyone, whom should you please? One common approach to answering this question is to focus marketing efforts by segmenting potential costumers into fairly similar wants and needs” 14

Comentando a citação do parágrafo anterior a necessidade de reforços para personalizar as atividades em relação aos clientes, tornou-se uma tarefa obrigatória para agentes de viagem, consultores e operadoras turísticas, para que concentrem seus esforços e suas estratégias de marketing em determinados segmentos ou “fatias de mercado”.

Nestes casos o conhecimento que se deve ter do cliente e fundamental. Seus gostos, suas prioridades, seu perfil profissional, e outras características mais precisam servir de base para que uma viagem adequada seja organizada. E, acima de tudo, para que esta viagem represente exatamente o que o cliente procurava e certamente não vinha encontrando, pois viagens diferenciadas não podem ser realizadas pela maioria das pessoas que querem viajar. Ou ainda, essas viagens não atingem o gosto de maiorias que viajam no contexto do chamado turismo de massa, por comodidade e, principalmente, pelos preços mais reduzidos.

A segmentação do mercado vem nos mostrando a importância de diferenciar os viajantes ou de agrupá-los por interesses afins. Cada viajante espera ansiosamente o momento em que irá fazer as malas e partir para um sonho que, talvez, esteja planejado há muito tempo. As empresas que organizam e realizam a viagem para os turistas sabem que o público está indo em busca de sonhos que esperam ser 15 concretizados. Estes projetos precisam ser estudados e organizados de forma que a viagem permaneça sempre na mente das pessoas como algo muito satisfatório, prazeroso e que possa ser repetido. Chris Ryan afirma que holidays are the times of our lives and they possess the oportunity to create memorable time 16. No momento da elaboração do roteiro da viagem é preciso ter em mente a realização de um sonho e de um tempo, que jamais será esquecido pelo turista.

O estudo sobre segmentação de mercado turístico no Brasil ainda é muito limitado. Poucos sãos os artigos e livros publicados sobre o assunto. Mas é algo que está se mostrando cada vez mais presente e exigindo maior discussão. De acordo com Beatriz Lage, “a segmentação do mercado turístico não é uma noção acadêmica, mas sim uma estratégia de busca: encontrar através de recursos de marketing, uma maior otimização do setor” 17. Como a própria autora sugere, há alguns anos atrás não se estudava tais temas em meios acadêmicos, só recentemente as universidades e cursos relacionados à área de turismo vem partilhando e discutindo esta denominação, derivada dos estudos de marketing.

Na realidade, o que sempre ocorreu é que a maioria das pessoas viaja por motivos diversos, mas a partir da necessidade de conhecer o próprio cliente é que o estudo do turismo segmentado fez-se necessário. Esses motivos e diferenciações sempre existiram; embora anteriormente os fenômenos, nunca tenham sido estudados. Esta é uma preocupação recente, como também toda linha de pensamento que envolve o estudo sobre o turismo. Alguns poucos autores explicam a segmentação do mercado turístico:

“a segmentação consiste na divisão do mercado em conjuntos de consumidores com características semelhantes e a conseqüente orientação dos esforços mercadológicos para atingir essas fatias do bolo, ou nicho e adequando os serviços às suas necessidades específicas” 18

Inúmeros são os fatores necessários para estudar o turismo segmentado ou para os profissionais de marketing classificar seu público. Os critérios básicos para essa classificação estão dentro das seguintes modalidades: geográfica, demográfica, psicográfica, econômica e social. Beatriz Lage explica tais categorias da seguinte forma:

•Segmentação geográfica: mais popular e eficiente no setor turístico. Explica-se pelo grau de urbanização de uma determinada população, seja de localidade, região ou país;
•Segmentação demográfica: classifica os grupos com base em variáveis do tipo idade, sexo, tamanho da família, ciclo de vida etc...;
•Segmentação psicográfica: refere-se a uma análise psicológica do indivíduo, exemplificando; os consumidores turistas têm preferências diversas por um ou mais produtos turísticos;
•Segmentação econômica: quase sempre baseada no nível de renda dos indivíduos;
•Segmentação social: variáveis como: educação, ocupação, estado familiar e até estilo de vida dos indivíduos estão presente nessa segmentação. 19

A partir do estudo das fatias do mercado pode se estabelecer uma justificativa para a tipologia turística, ou seja, o perfil ou modo de vida dos que podem se encaixar nos diferentes segmentos encontrados atualmente.

Vale ressaltar que vários formatos de viagem ou determinadas razões que levam a pessoa a viajar, já existem há muitos anos, mas o estudo, a nomenclatura e talvez a profissionalização de alguns segmentos estejam acontecendo somente há algumas décadas.

No final do século XIX e no começo do século XX, várias pessoas que precisavam fazer tratamento de saúde, contra tuberculose, por exemplo, recorriam a viagens para outros lugares, hospedando-se em casas de repouso ou sanatórios (em casos mais severos devido ao isolamento necessário que a doença exigia). Este público buscava outro clima, em regiões montanhosas, como era o caso (e ainda de certa maneira é) de Campos de Jordão. Na época, isso seria considerado turismo ou talvez o termo não fosse usado para designá-lo, mas atualmente o exemplo citado já é tido como turismo de saúde. O turismo de saúde é somente um exemplo dentre os inúmeros segmentos de mercado turístico. É possível destacar como principais (os exemplos citados são só alguns dentre outros, pois o número de segmentos está sempre sendo estudado):

• Turismo de descanso/férias;
• Turismo de negócios;
• Turismo ecológico;
• Turismo rural;
• Turismo de aventura;
• Turismo religioso;
• Turismo cultural;
• Turismo GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros);
• Turismo de pesca;
• Turismo gastronômico;

Os segmentos acima estão agrupados sem critérios mais específicos como, turismo segmentado feito por idade, perfil do grupo (casais, solteiros, etc...), aspecto cultural (intelectuais, estudiosos, etc...). Obviamente, quaisquer outros segmentos observados exigem um amplo estudo sobre o público que os organizadores desejam atingir.

Além dos critérios apresentados anteriormente, é preciso levar em conta o nível sócio-econômico do viajante; o meio de transporte pelo qual viaja; sua permanência no local de destino e o tempo gasto na viagem: as variantes. Todos os fatores, critérios e variantes, reunidos e analisados servirão para a elaboração da viagem. E como já salientado tudo precisa ser muito bem ajustado, pois é um sonho que se concretiza para o turista. Quanto mais personalizada a viagem, maior será a identificação do passageiro com o roteiro e assim também a sua satisfação.



2. Turismo étnico-cultural

Um segmento turístico que vem tomando força por meio da busca pela identidade cultural que se busca resgatar na pós-modernidade é o chamado turismo étnico.

O turismo étnico existe em diversas partes do mundo e atenta para a importância da manutenção das culturas regionais. Atenta também para a necessidade da lembrança recorrente de costumes das etnias diversas que formam o mundo atual.

Entende-se por etnia um grupo de indivíduos biológica e culturalmente homogêneo, indivíduos unidos por características somáticas, culturais e lingüísticas comuns. Inúmeras são as etnias que vivem no Brasil e mais especificamente na cidade São Paulo. Seria impossível alcançar um número que atinja a totalidade, a fim de esgotarmos todas as variedades étnicas aqui existentes.

Alguns bairros da cidade de São Paulo podem ser considerados bairros étnicos se analisarmos a estrutura da cidade e a imigração de povos estrangeiros, além dos próprios nativos paulistanos. Também é possível considerar alguns bairros como étnicos por meio do imaginário coletivo da população, em exemplos que veremos a seguir.

O bairro da Liberdade, na região central da cidade, recebeu um grande número de imigrantes japoneses (desde a chegada dos primeiros imigrantes no começo do século XX) e continua com características orientais até o presente, como a feirinha de artigos japoneses, lojas e vários restaurantes típicos na região.

O bairro do Bixiga, ou Bela Vista, também na região central de São Paulo, foi e ainda é residência de italianos e seus descendentes. Além dos dois bairros mencionados, notamos sinais de imigração italiana em inúmeros bairros da capital paulista, como Mooca, Brás, Belém e Bom Retiro. Este último ainda é tido (mesmo que não seja mais) como um bairro étnico no imaginário coletivo dos paulistanos, mais precisamente um bairro judaico.

Um número considerável de sinagogas, restaurantes e escolas ainda permanece na região fazendo com que o Bom Retiro seja evocado como bairro judaico, pois há referências que se apóiam na população judaica que lá reside ou que por lá eventualmente passou, tornando-o ainda mais peculiar para aqueles que o visitam, e conhecem a história de outros bairros da cidade. Entretanto, a partir da década de oitenta, aproximadamente, um grande número de imigrantes coreanos tem chegado a região, assim como mais recentemente bolivianos (o termo boliviano generaliza todos os imigrantes andinos que imigram para São Paulo) que fazem desse bairro sua residência e local de trabalho.

Ainda que o Bom Retiro seja considerado parte central da vida judaica em São Paulo, as sugestões para o roteiro judaico não irão se referir apenas a ele, mas também a outros pontos como bairros de Higienópolis e Santa Cecília na região central e Jardim Paulista na região sul.

Qual será a razão de estarmos nos referindo ao turismo étnico e não ao religioso? O judaísmo não é uma religião? Sem dúvida. Mas as propostas para este roteiro não se limitam somente a fatores religiosos, mas a religião analisada em seus aspectos cósmicos e culturais. Os aspectos cósmicos são entendidos como uma integralidade da vivência do indivíduo ou de grupos dentro de certos princípios que não se dividem entre o laico e o religioso, o público e o privado, o aspecto familiar e o da sociedade, etc... Quem, por ventura, interessar-se pelo turismo étnico judaico não estará estudando a religião judaica propriamente dita, mas visitando atrativos que ajudam a conhecer um pouco dessa cultura.

Várias são as razões pelas quais as pessoas saem à procura de passeios alternativos e visitas a lugares que talvez nunca houvessem pensado conhecer. Também são inúmeras as razões pelas quais, o público judeu escolhe como passeio uma visita a lugares conhecidos, como sinagogas ou restaurantes, que servem comida típica judaica (locais que fizeram parte da educação judaica). Na realidade, quando o movimento turístico se torna mais especializado além do público ser dividido pelos critérios apresentados também devem ser levados em conta os seguintes aspectos: nível ocupacional, aspectos sociais e estilos de vida (incluindo a religião).

Primeiramente, abordando os não-membros da etnia (os não-judeus), o que chamaria atenção deste público que o faria como visitar lugares distintos da sua própria cultura? Qual seria o interesse na religiosidade ou nos costumes judaicos? O judaísmo, como a mais antiga religião monoteísta, e fonte de conhecimento para outras religiões, como o cristianismo e o islamismo. Seus costumes e crenças atraem a atenção de estudiosos em geral. A forma de preparação dos alimentos na cozinha mais ortodoxa ou a forma com que a educação é tratada tornam-se atrativos para um público motivado pelo conhecimento de outras culturas.

Um grande número de judeus também se interessa em visitar locais onde se manifesta a cultura judaica. Em uma metrópole como São Paulo, inúmeros judeus vivem afastados de locais judaicos como clubes, restaurantes ou escolas. Talvez uma grande porcentagem nem saiba da existência de muitos atrativos. Além disso, quando visitantes judeus de outras cidades ou de outros países conhecem o Brasil, geralmente, têm curiosidade de saber como vivem os judeus daqui. Será que existe semelhança na educação dos judeus em todo o mundo? O que existe de diferente na vida de outros grupos? Essas perguntas são respondidas quando os questionadores interessam-se e visitam locais judaicos em um bairro, cidade ou país diferente do local do seu domicílio.

Em uma entrevista concedida por Jairo Fridlin, constatamos que na livraria de sua propriedade (Sefer), 20 vários são os contatos feitos por pessoas de todo Brasil (na sua maioria judias) que estão em São Paulo e querem indicações de restaurantes e sinagogas. De maneira informal, essas sugestões são dadas pelo próprio Jairo, pois não há nada conhecido pelo grande público, como folhetos que divulguem atrativos judaicos da cidade. Informalmente, há agencias que podem até realizar alguns passeios com atrativos judaicos, mas em entrevistas e na pesquisa para realização desse trabalho a informação obtida é a de completa desinformação no que diz respeito aos serviços do gênero oferecidos pela comunidade judaica e de material escrito (como folhetos e guias judaico-brasileiros) sobre tais serviços. A Sefer e um espaço imprescindível na paisagem paulistana, tanto para visitação de judeus quanto de não-judeus que se interessam por literatura judaica, músicas e palestras relativas ao tema. Além de uma livraria completa sobre assuntos judaicos, há uma seção de cds de músicas, material para crianças e vendas de produtos religiosos. Como se trata 21 de um local amplo, com várias salas, há também espaço para realização de cursos (como cursos regulares de hebraico) e, todas as quartas-feiras no período da noite, há uma palestra sobre diferentes temas judaicos proferida por profissionais de áreas distintas. O espaço recebe visitantes de São Paulo (judeus e não-judeus), além de pessoas de outros estados e até outros países. A Sêfer também funciona como editora de livros e distribui seu material em diferentes locais do país. Nos anos em que acontece a Bienal do Livro em São Paulo, os responsáveis pelo stand de Israel são os proprietários da livraria e sempre contam com sucesso e público constante.

Um aspecto importante que precisa ser ressaltado é a sensação reconfortante de quando estamos em um país estranho, e encontramos algo que nos faz lembrar a nossa própria cultura, ou nossa própria etnia. Um exemplo claro que podemos observar é que existe uma quantidade de judeus de outras cidades ou talvez até de outros países que chegam a São Paulo e perguntam onde é possível encontrar sinagogas para visitação ou restaurantes com comida casher ou comida típica judaica (informações a este respeito serão dadas posteriormente). A idéia de “pertencer” a uma determinada etnia ameniza talvez, os sentimentos adversos e receosos que uma pessoa possa ter em um país estrangeiro.

Não é do conhecimento da maioria da população judaica (e menos ainda dos não-judeus) qualquer proposta de roteiro para a visitação de atrativos judaicos dentro de São Paulo, como já foi colocado anteriormente. As informações possíveis de serem encontradas são sugestões gastronômicas de restaurante e lanchonetes do gênero (sugestões que algumas vezes são publicadas em revistas como Veja São Paulo e guias gastronômicos gerais).

As sugestões para um roteiro étnico na cidade estão dentro de uma infinidade de possibilidades de lazer e turismo que São Paulo pode oferecer. Não há números certos de roteiros culturais que podem ser oferecidos dentro da metrópole, pois a cada dia surgem novas possibilidades. O turismo étnico judaico pode vir a ter públicos diferenciados, chamando a atenção de:

• Moradores da cidade de São Paulo;
• Moradores de outras cidades ou países;
• Membros da comunidade judaica que têm contato com os atrativos e tendem a retornar;
• Judeus que não conhecem atrativos por viverem em regiões brasileiras distantes dos maiores centros do centro-sul (como Manaus, Belém ou mesmo Natal) ou não terem contato com a comunidade judaica,
• Público de qualquer etnia e que resida em qualquer local, mas que se interesse por atrativos diversos na metrópole.

Por isso o próximo subtítulo tratará da questão do lazer dentro da metrópole, para maior entendimento sobre as sugestões de roteiro para a cidade de São Paulo.



3. Identidade cultural e lazer na metrópole
O panorama do mundo globalizado em que vivemos tem destacado a importância da preservação da identidade cultural, quanto precisamos manter certos costumes e tradições no auge da macdonaldização (termo comumente usado referindo-se à globalização) do planeta. É fundamental a visualização das diferenças para que possamos analisar, bem como entender e dar importância ao que é semelhante, e vice-versa. Como se diz nos tempos atuais, as culturas regionais se valorizam quando há uma tendência a unificar o mundo.

A cultura americana ficou conhecida como um grande melting pot, um caldeirão onde se misturam diferentes etnias e culturas. Mas recentemente este paradigma cultural modificou-se e a identidade étnica ressurgiu de um modo significativo, impondo-se naquele país. 22

Quando falamos de turismo étnico, percebemos o judeu a procura de lugares de memória. Todas as comunidades judaicas prezam seus valores culturais e a transmissão dos mesmos para novas gerações. A necessidade de manter certos rituais e conviver com pessoas da mesma etnia são questões importantes dentro da vida judaica. Principalmente por ser um povo que, diversas vezes durante a sua história, foi vítima de extermínios por diferentes motivos, como a Inquisição por séculos e a Segunda Guerra Mundial na metade do Século XX. Há um temor sempre presente, pois a população judaica pensa nos massacres ocorridos e no seu povo dizimado. Ainda há, também, o estigma sempre presente de ser um povo perseguido, o que leva a uma necessidade maior de alguns de seus membros de viverem em comunidade, em qualquer lugar do mundo.

Uma característica importante no judeu, que foi constatada na elaboração deste trabalho durante algumas entrevistas informais foi a percepção do bem estar, da sensação reconfortante causada por encontrar algo semelhante a sua história de vida em um local distinto da sua área de moradia, numa cidade diferente ou mesmo num país estrangeiro. Isso resume a importância da identidade cultural.

O escritor judeu-brasileiro Moacyr Scliar define a identidade cultural judaica:

“ como uma expansão, um desdobramento do tradicional álbum de família. As fotos do álbum significam que temos, não apenas uma memória em comum, mas também uma história, com H maiúsculo, e temos também uma cultura em comum, representada pela literatura, pela música, pela dança, pela arte” .23

Em locais onde as comunidades são maiores, como em algumas cidades norte-americanas (Nova Iorque, por exemplo), podemos notar a satisfação de várias pessoas judias, de diversas partes do mundo ao encontrar sinagogas e restaurantes que servem comida judaica, tão presentes no cotidiano daquele país, algo que não é tão fácil para os judeus residentes no Brasil. Embora existam vários locais de gastronomia judaica ou sinagogas, os números não podem ser comparados aos de outras cidades como Nova Iorque, onde o número de residentes judaicos é infinitamente maior. Vale ressaltar que e possível comparar São Paulo e Nova Iorque no contexto de metrópoles.

Se pensarmos nos cidadãos que vivem em grandes cidades (inclusive judeus), notaremos que, “o sujeito pós-moderno não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente, e faz parte de uma multidão da metrópole anônima e impessoal(...) é um turista” 24. Então, este sujeito precisa se sentir mais próximo de suas raízes onde quer que vá, para não ter a sensação de isolamento na metrópole, questão que será analisada posteriormente. Ou, pelo menos, que o lugar distante e desconhecido que esteja visitando tenha características que lembrem as suas origens. Aqui é possível estarmos nos referindo aos judeus liberais, que não seguem todas as normas e leis da religião judaica, e também aos judeus de características mais ortodoxas, que respeitam todas as tradições e todos os mandamentos da Bíblia (Antigo Testamento). Judeus, independentemente da profundidade religiosa, sentem o conforto da aproximação de um seu semelhante e de identificação com outros do mesmo grupo em ambientes estranhos (não-judaicos), em momentos de lazer, do não-trabalho e na sua própria cidade como já foi dito.

Nesta dissertação, far-se-á uma divisão dos membros da comunidade judaica, posto que essa comunidade não é, absolutamente, uma totalidade homogênea como pensam as pessoas de fora. Salienta-se que dois tipos distintos estão sendo analisados, os judeus religiosos, aqueles que têm a vida regida pelo sagrado e não fazem nenhuma distinção de esferas de sentido entre sagrado e profano e os judeus liberais que dividem a vida entre o sagrado (freqüentar a sinagoga, por exemplo) e o profano (vida cotidiana sem relação religiosa). Neste último caso poderíamos chamá-los laicos, ou não-religiosos.

Também é possível a análise da aproximação de não judeus com os aspectos da cultura judaica. A curiosidade daqueles que não fazem parte de uma comunidade judaica, para atrativos judaicos, visto que, “há também uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da alteridade” 23. E isso que pode ser observado no mundo atual, quando não há uma necessidade de encontro com as raízes, há uma necessidade de buscar algo que satisfaça lacunas, ou talvez respostas que nunca foram dadas. Um dos motivos disso pode ser até a importância da religião judaica, e talvez, seja possível o entendimento de algumas situações da vida, da história da família, da base religiosa de ancestrais, etc..., ou pelo estudo de outra religião, diferente daquela na qual nascemos. Deve-se pensar também em casos de atração por uma determinada cultura, sem qualquer implicação mais sofisticada ou um simples desejo de visitação a lugares diferentes do próprio bairro ou da cidade de moradia.

A cultura judaica é um tema que atrai atenção e se torna muito interessante para ser estudado, até mesmo por não-judeus que sentem curiosidade em conhecer características sobre a religião e costumes. Podemos citar como principais, “focos de interesse” no judaísmo os seguintes temas:

• cursos de língua hebraica ministrados em locais pulverizados pela cidade (lembrando que está sendo feita uma análise somente sobre a cidade de São Paulo, outras cidades onde vivem comunidades judaicas não fazem parte da pesquisa, nem mesmo os municípios da grande São Paulo, como Santo André ou Santos que têm uma comunidade expressiva);
• cursos de cultura e costumes judaicos (como receitas culinárias para festas típicas e história do povo judeu) e,
• um dos tópicos mais conhecidos e curiosos, tanto para judeus como para não judeus: a

Cabala (a tradição mística do judaísmo):
``a tentativa de compreender os significados secretos ou ocultos da Tora, a especulação referente à criação do universo, a compreensão da maneira pela qual Deus se manifesta nessa criação, a comunicação com Deus, de uma forma tão direta quanto possível, através da prece e, finalmente a regulação do comportamento e da vida do místico, com objetivo de unificar os mundos superiores, através dos quais a forca criativa de Deus opera, e o mundo inferior em que vivemos.” 26

Esta procura por algo para ser estudado como a Cabala, que pode ser analisada tanto por judeus quanto por não-judeus, é uma característica comum do nosso mundo. Fácil de ser notada pela quantidade de livros de auto-ajuda e misticismo, hoje à venda em qualquer livraria. Nota-se que a cabala é uma filosofia secular e os seus grandes mestres passaram a vida estudando–a. Não há cursos rápidos para o seu domínio e explicação.

Por mais que se fale em “civilização do lazer” vemos a vida regida pelo trabalho e pela necessidade de sobreviver, em que o lazer não é usufruído. Talvez o homem contemporâneo esteja buscando diversas formas de se aproveitar melhor o seu tempo livre ou, talvez, estejam faltando melhores oportunidades para os momentos de lazer.

Nas grandes cidades, construídas para o trabalho e não para o lazer, vemos que não há quase preocupação com as necessidades que seus moradores têm de 27 relaxar e esquecer as pressões do dia a dia. Quando se trata da metrópole, como é o caso de São Paulo, a questão da necessidade de lazer, é muito importante. A vida na metrópole, por mais que isso possa parecer contraditório, é de solidão. “A pessoa em nenhum lugar se sente tão solitária e perdida quanto na multidão metropolitana” 28. Como é possível usar o tempo livre na própria cidade, quando se fala em viagens de sonho nas quais teríamos possibilidades de omitir a rotina? Será que é possível esquecer o cotidiano quando não há condições de partir para esta viagem dos sonhos?

Em primeiro lugar é preciso que a sociedade se transforme como já está acontecendo nos últimos anos. “Nos dias de hoje, o lazer funda uma nova moral de felicidade. É um homem incompleto, atrasado e de certo modo alienado, aquele que não aproveita ou não sabe aproveitar o seu tempo livre.” 29

Não falamos somente do Brasil quando se trata de aprender a usufruir dos momentos de lazer, mas falamos de todos os países na era da sociedade pós-industrial. Ainda é muito difícil fazer com que o trabalhador entenda que trabalhar menos, conseqüentemente ganhar menos, faz bem ao seu estado de saúde, tanto físico quanto mental.

Na realidade o homem que nasceu respeitando alguns princípios da sociedade contemporânea não conhece o prazer sem culpa de usufruir suas horas de lazer, sem preocupações com o trabalho. Raras são as pessoas que conseguem viajar ou mesmo ter momentos de lazer na cidade em que residem e esquecer completamente do trabalho e do cotidiano estafante. Estudos vêm demonstrando que certas pessoas adoecem e têm inúmeros tipos de reações se permanecerem longe do trabalho mais do que alguns dias, a chamada “síndrome do lazer”. 30

Quais os motivos do cidadão não aproveitar o seu tempo livre? A formação do homem na era em que vivemos não permite uma mudança de comportamento tão radical. É extremamente difícil, ou talvez impossível que aconteça uma virada tão repentina. É necessário um processo para que as pessoas comecem a entender 31 paulatinamente as necessidades das pausas e dos momentos de ócio, e que insiram na sua vida cotidiana momentos que não se referem somente ao trabalho ou obrigações do dia a dia. Não é possível anunciar os trabalhadores o simples corte de sua jornada mensal de trabalho ou a redução de horas semanais de trabalho. Está é uma idéia que terá de ser absorvida para poder gerar resultados diferentes. Talvez o mesmo cidadão não saiba o que significa lazer, pois desde muito jovem está acostumado a trabalhar e o dinheiro nunca é suficiente para outros gastos, pois: “O lazer e um conjunto de ocupações das quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se da obrigações profissionais, familiares e sociais." 32

É preciso que, desde o início da vida escolar, a criança seja ensinada o valor do lazer, ou os professores devem manter essa perspectiva junto à criança. Lazer não é mais considerado hoje como algo que não serve para nada e que sem ele a vida continuaria absolutamente normal. O lazer é fundamental.

“O lazer e, sobretudo as viagens pintam manchas coloridas na tela cinzenta da nossa existência. Elas devem reconstituir, recriar o homem, curar e sustentar o corpo e a alma, proporcionar uma fonte de forcas vitais e trazer um sentido a vida.” 33

São inúmeras as possibilidades de lazer dentro de grandes metrópoles. Não é necessário fugir das grandes cidades nos fins de semana para poder fazer algo prazeroso ou esquecer das obrigações cotidianas. Além de parques, teatros, cinemas, livrarias, clubes, etc..., inúmeros são os atrativos que existem na cidade de São Paulo. Podemos observar uma grande quantidade de museus, casas de Shows/espetáculos, shopping centers e restaurantes, só como exemplos. Os grandes centros contam com uma infra-estrutura razoável para receber os visitantes e turistas. Tanto através de algumas iniciativas oficiais como da iniciativa privada em algumas regiões que até 34 pouco tempo atrás não tinham condições de receber turistas e moradores da cidade, a visitação já se torna segura e de interesse. Este é o caso do Parque da Luz que passou por melhorias consideráveis, da sala São Paulo na Estação Julio Prestes que sedia concertos e espetáculos e do Centro Cultural Banco do Brasil (inaugurado recentemente), localizado no centro da cidade de São Paulo que promove atrações culturais. É possível observar que, apesar da violência denunciada pela mídia, vemos que o centro de São Paulo é um lugar de grandes possibilidades de visitação e conta com atrativos desconhecidos de uma grande parte dos seus moradores. O centro também nos proporciona os mais famosos cartões postais de São Paulo, como o Edifício Itália e o Teatro Municipal.

Quando se planeja algum tipo de passeio ou algum tipo de roteiro turístico na região metropolitana é preciso levar em conta uma série de fatores, mas dentre os principais estão sem duvida, qual público virá para conhecer esse atrativo? A quem interessará o que está sendo feito?

Há inúmeras possibilidades de roteiros diversificados dentro da cidade de São Paulo, atrativos para todos os gostos e preferências culturais, dentre as quais a possibilidade e a oferta de sugestões para um roteiro cultural étnico-judaico.

O turismo étnico–judaico que pode vir a ser realizado na cidade de São Paulo é voltado tanto para o lazer do próprio paulistano como também uma atração adicional para os turistas. Quem, possivelmente, irá interessar-se por tais atrativos, será um público atento às histórias e costumes diversos (público não-judeu) ou mesmo as necessidades de identificação cultural e religiosa. A identidade cultural, anteriormente abordada está presente na visitação dos atrativos, na preocupação com a preservação de costumes e nas tradições.

É necessária a preservação de culturas, ainda que se reconheça a inexistência de culturas absolutamente autóctones, sem empréstimos e mudanças no tempo. Mas também é de extrema importância ter em mente a questão da tradição inventada, como diz Eric Hobsbawm: nem todas as tradições perduram, mas não é necessário inventar quando os velhos usos ainda se conservam.

É comprovado historicamente que o contato com os outros povos, modifica certos costumes.

O lazer do judeu paulistano não-ortodoxo contém somente algumas características que o diferenciam dos outros. As variantes são idênticas para qualquer outro habitante da capital paulista; faixa etária; gênero e nível econômico-social. As formas de lazer são decorrentes da clivagem social.

Um dos elementos de diferenciação e a existência de clubes judaicos. Há diversos clubes não judaicos espalhados pela cidade de São Paulo, judaico somente dois. Vale ressaltar que os judaicos são, na sua imensa maioria, freqüentados por judeus não–ortodoxos. O clube mais conhecido do grande público e com maior número de sócios é: A Hebraica, localizado na região sul de São Paulo (Rua Hungria, 1000 – entrada principal pela Marginal de Pinheiros). Além do público quase que exclusivamente judaico que o clube recebe nos fins de semana para diversas atrações, possui duas salas de teatro (sala Arthur Rubinstein e sala Anne Frank) com espetáculos e apresentações de música erudita, abertas aos não-associados. Este clube é sem dúvida o maior espaço judaico da cidade de São Paulo, pois oferece inúmeras opções aos seus associados e ao público em geral. Como todo clube oferece infra-estrutura própria para lazer e recreação como piscinas, quadras de esportes e ginásio poliesportivo, mas também oferece muitos outros serviços. Um spa também faz parte da instalação do clube, além de academia de ginástica, centro de convenções, sinagoga e centro cívico. Pelo espaço físico privilegiado, várias são as atividades culturais realizadas no clube, como apresentações de dança, festivais de teatro, workshops e cursos diversos. O festival de cinema judaico acontece todos os anos nas dependências do clube A Hebraica. O quinto festival aconteceu em agosto de 2000 e foi o pioneiro do gênero na América Latina, contando com filmes e documentários com temas judaicos de todo o mundo.

O segundo clube dentro da cidade e o C.E.I.B. Macabi (Circulo Esportivo Israelita Brasileiro Macabi). É um clube de campo, distinto da A Hebraica. Localizado na região norte da cidade, perto do parque da Cantareira, conta com outra filial, voltada para esportes, localizada na Avenida Angélica, região central da cidade. É um dos clubes mais importantes do mundo e sua sede em São Paulo existe há mais de setenta anos. O prédio da Avenida Angélica conta com escola de esportes, clube de jogo e um bingo localizado em anexo. Já na sede em que funciona o clube de campo, as atividades são variadas. Além de contar com uma área verde privilegiada, no começo da Serra da Cantareira, o clube é ideal para os dias de sol, devido a sua piscina olímpica. Crianças tomam conta do local nos fins de semana de calor e realizam atividades monitoradas durante o dia. Várias instalações podem ser conferidas como campo de futebol, quadras de esporte, ginásio poliesportivo, churrasqueiras, restaurantes, etc...

O público visitante, e sócio de outros clubes, é bastante diferenciado, assim como os diversos atrativos que os mesmos oferecem. Apesar da oferta e da possibilidade de se afiliar (seus títulos não são baratos, mas também e possível oferecer anuidades grátis para famílias carentes), nem todos os membros da comunidade judaica são sócios dos clubes.

Salienta-se novamente a questão da não-homogeneidade da comunidade judaica. Como em qualquer outra comunidade ou etnia, há diferenças internas, fatos que podem não ser conhecidos por outros públicos. Não necessariamente todos os judeus possuem condições financeiras para freqüentar clubes. Apesar de o mito judeu rico existir ele não é verdadeiro. Há uma entidade beneficente chamada UNIBES (União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social) 35, fundada em 1976 com a junção de varias entidades judaicas ligadas à ajuda aos carentes. Atualmente, é uma instituição extremamente importante dentro da comunidade e conhecida internacionalmente. O corpo de trabalho da instituição conta com uma expressiva quantidade de funcionários como assistentes sociais, professores e coordenadores pedagógicos, enfermeiros, dentistas, médicos, etc... e cerca de cento e vinte profissionais, além dos voluntários que trabalham pela instituição e fazem parte da diretoria. A UNIBES ajuda famílias judias carentes, coordena grupos de terceira idade e coral, grupos para deficientes mentais e diversos serviços para a comunidade, como farmácia e bazar. Este último, chamado Bazar Bernardo Goldfarb recebe doações todos os dias e atende aos assistidos da comunidade, além de vários dos seus produtos serem comercializados. A creche Betty Lafer atende aproximadamente cento e oitenta crianças a partir dos dois anos e meio até que as mesmas atinjam a idade de seis anos e onze meses. Ainda no setor educacional, há o Centro de Juventude I (recreação e complementação escolar) e o Centro de Juventude II (cursos profissionalizantes). A UNIBES ainda conta com um atelier artístico, oficina de bijuterias e outros projetos, sempre em prol da comunidade. A sede da UNIBES localiza-se no bairro do Bom Retiro (Rua Rodolfo Miranda, 287) e mais dois prédios no mesmo bairro sediam suas outras atividades. Vários visitantes de diferentes locais do mundo se interessam pelas atividades da instituição e moradores da região também participam de suas atividades e festividades.

Como em qualquer sociedade com suas diferenças internas, às vezes é difícil saber como a comunidade judaica vive. Muitos judeus, por meio do trabalho, construíram um patrimônio considerável, mas não é por esse razão que é possível generalizar, como se todos pertencessem à elite econômica. As dificuldades em viver nos países como o Brasil, por exemplo, são comuns a todos, independentemente de sua religião ou etnia.

Exatamente por essas diferenças internas, quando se trata do lazer da comunidade também não se deve generalizar. É por isso que vários membros da comunidade não sabem da quantidade de atrativos judaicos que existem em São Paulo. Alguns residentes de bairros distantes dos centrais perderam o contato com esses atrativos, pois não necessariamente freqüentam clubes judaicos, recebem revistas, jornais judaicos ou ainda têm contato com outros membros da comunidade.

É interessante notar que alguns judeus já nascidos no Brasil não têm conhecimento do bairro do Bom Retiro, por exemplo, como marco da presença da região judaica na capital paulista.

As gerações mais antigas contam com associações de terceira idade. Inúmeras são as associações espalhadas pela cidade (como as existentes nos clubes citados anteriormente). As reuniões semanais acontecem em sedes de entidades. Nos encontros, são organizadas festas e comemorações. Certos grupos contam com coral e danças folclóricas para a terceira idade. O grupo de terceira idade do Circulo Macabi, por exemplo, realiza na páscoa Judaica, o Pessach um terceiro jantar comemorativo da data (nesta data, é costume celebrar apenas dois jantares) quando são convidados todos os associados para festa, além de um conjunto de danças folclóricas que se apresenta em diversos festivais realizados no país.

Casais com filhos pequenos geralmente freqüentam os clubes aos fins de sema na para que os filhos cresçam num ambiente judaico, a despeito de estudarem em escola judaica. Além disto, vão a esses lugares para aproveitar a infra-estrutura oferecida, como piscinas e espaços para recreação.

Quanto aos adolescentes, pode-se dizer que a matrícula em escolas judaicas permite ampliar o conhecimento da religião judaica e suas práticas, pois durante o fim de semana, além dos encontros em clubes, são possíveis outras atividades relacionadas à educação não-formal: os movimentos juvenis. 36

Depois de entrarem em cursos superiores e de uma certa maneira “liberarem-se” de uma vida judaica integral (em casa, na escola, talvez no próprio bairro e nas atividades de lazer), é difícil a manutenção de todos os hábitos. Entram em discussão conceitos básicos de qualquer adolescente que está ingressando na idade adulta e cursa uma universidade, tais como a liberação de certas normas, horários diferenciados e conhecimento de outros mundos e outras religiões. As atividades de lazer certamente se modificam, pois há o surgimento de novas amizades, não necessariamente judias. Vale ressaltar que não irá entrar em discussão neste trabalho o preconceito entre famílias e jovens judeus e não-judeus. O preconceito pode existir, mas não será analisado como fator de afastamento dos judeus de alguns lugares, pois isso não e um fato usual no Brasil.

Também há grupos de jovens e casais, singles 37 e eventos culturais gerais para todas as idades (usualmente para membros de alguma entidade como sócios do clube A Hebraica).

É importante frisar que não é só dentro de ambientes judaicos que membros da comunidade se encontram. Como já dito anteriormente, diversas atividades sociais e culturais são sempre de extrema importância na educação judaica. Portanto, nem todas as atividades culturais que podem vir a ser propostas devem ficar necessariamente fechadas no interior das comunidades. A visitação a pontos culturais da cidade onde moram é importante, assim como as diversas formas de recreação em tempo de lazer. Cinemas, casas de espetáculos e outros atrativos são sempre visitados por judeus de todas as idades, em São Paulo.

Também pela rica herança cultural judaica, como já dito, os não-judeus são atraídos para o conhecimento desses costumes. Notando aspectos interessantes na religião judaica, e que certas pessoas procuram satisfazer sua curiosidade, tentando entender mais um pouco sobre tradições e costumes.

O lazer na cidade de São Paulo é algo que pode servir de alvo para inúmeras discussões, mas um ponto em que deve haver consenso é a multiplicidade de atrativos dentro da cidade.

Entretanto, apesar da oferta considerável ainda há atrativos dentro da cidade de São Paulo a ser explorados. Atrações diversificadas, para públicos diversos. Roteiros 38 diferenciados na cidade não são conhecidos do grande publico, pois não há divulgação. Talvez, alguns paulistanos estejam procurando entretenimento de acordo com o seu perfil e não os encontrem. As possibilidades de lazer do paulistano poderiam ser muito mais amplas do que a mídia divulga. As propostas sugeridas por esta pesquisa poderão ir ao encontro das necessidades dos paulistanos, além de proporcionar aos turistas formas alternativas de conhecimento da metrópole.
 
1 Por razões editoriais esse trabalho foi dividido, e será apresentado em duas partes.

2 Andréa Kogan é mestre em Turismo; graduada em Letras, língua e literatura inglesa pela PUC-SP. Atual diretora de Turismo e Hospitalidade da UNICID, Universidade Cidade de São Paulo, e professora dos cursos de graduação e pós-graduação, em cursos de Letras dessa Universidade. Foi também docente nos cursos de Turismo e Hotelaria do SENAC-SP.

3 A diáspora (ou dispersão) judaica é um conceito que se refere aos judeus que imigraram da antiga Palestina, principalmente para a região constituída pelo antigo Império Romano; fora do Estado de Israel (dispersão acentuada pela destruição do Segundo Templo em Jerusalém).

4 SORJ, Bernardo. “Sociedade Brasileira e Identidade Judaica”. In: SORJ, Bila (org.) Identidades Judaicas no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Imago, 1997.p.28

5 Vale lembrar que há alguns estudos que mostram a chegada de judeus junto com as caravelas de Cabral, mas em virtude de uma necessidade de delimitação do trabalho proposto, o mesmo analisa a chegada dos judeus a partir do final do século XIX.

6 De acordo com George Simmel, em Metrópole e a vida mental, a metrópole sempre foi a sede da economia monetária, além de implicar que o homem que lá vive tenha uma consciência mais elevada e uma predominância da inteligência.

7 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz T. Silva e Guacira L. Louro. 3.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.p.62

Várias formas de turismo são conhecidas através da segmentação do mercado pelas ferramentas de marketing. As ferramentas procuram segmentar o público pela sua idade, hobbies, posição social, religião, etc... O marketing não é o alvo principal deste trabalho.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da república Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

PIRES, Mário Jorge. “Levantamentos de atrativos históricos em turismo – uma proposta metodológica”. In: LAGE, Beatriz H.G., MILONE, Paulo C. (org.) Turismo: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2000. p.111.

A pós- modernidade, não é facilmente traduzida ou explicada, nem existe a seu respeito qualquer consenso acadêmico, mas de acordo com Luiz G.G. Trigo, em A sociedade pós- industrial e o profissional em turismo, podemos notar que a época é de novas tecnologias, educação em um mundo que se transforma rapidamente, lazer, cultura e turismo ocupando posições centrais, questionamento dos metadiscursos dos organizadores de pensamentos, era do conhecimento, etc...

MORAES, Claudia C. “Turismo – segmentação de mercado: um estudo introdutório”. In: ANSARAH,Marilia Turismo segmentação de mercado. São Paulo: Futura, 1999. p.19.

KRIPPENDORF,Jost. Sociologia do turismo para uma nova compreensão do lazer e das viagens. São Paulo: Aleph, 2000. p. 54.

COOK,Roy,YALE Laura, MARQUA, Joseph. Tourism – the business of travel.New Jersey: Prentice Hall,1999 p. 32. “O antigo ditado, você não pode agradar a todos, o tempo todo, certamente é verdadeiro no que diz respeito às empresas turísticas. Se você não pode agradar o todos, a quem você deve agradar? Uma resposta comum a essa pergunta é focar os esforços de marketing à segmentação dos consumidores potencias em necessidades e desejos razoavelmente similares”. Tradução da autora.


RYAN, Chris ‘The time of Our Lives`or Time for Our Lives: An Examination of Time in Holidaying. In: RYAN, Chris (org) The Tourist Experience: A New Introduction. New York. Cassel, 1997 p. 201 “As férias são os melhores tempos da vida e elas possuem a oportunidade de criar um tempo memorável”. Tradução da autora.

17 LAGE,Beatriz. “Segmentação do mercado turístico”. In: Turismo em Analise, v3, n.3, nov/92.

18 MIELENHAUSEN, Ulrich. “Gestão do mix promocional para agências de viagens e turismo”. In: LAGE, Beatriz e MILONE, Paulo. Turismo: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas 2000. p.52

19 Op.Cit.

20 Jairo Fridlin é escritor, tradutor e grande conhecedor da cultura judaica (algumas obras tradução e transliteração da Hagadá de Pessach, Machzor completo,Sidur completo e Salmos) A Sêfer está localizada à Alameda Barros,893.Home page: www.sefer.com.br, e-mail sefer@sefer.com.br.

22 Extraído do original em inglês do texto “Ethnic identity and tourism marketing” in WITT, Stephen and MUTINHO, Luiz. Tourism marketing and management handbook UK: 1989, Prentice Hall. p. 137.

23 SCLIAR,Moacyr. “Em busca da identidade judaica”. In revista Kol News, Suplemento especial. Abril 2001. p.28

24 WARNIER, Jean-Pierre. A mundialização da cultura. Trad. Viviane Ribeiro. São Paulo: Edusc,2000. p.72.

25 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós –modernidade. 3.ed. Rio de Janeiro: DP &A p. 77.

26 ASHERI, Michael . O judaísmo vivo - as tradições e as leis dos judeus praticantes 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1995 p. 255.

28 SIMMEL,Georg. “A metrópole e a vida mental”. In: Textos básicos de ciências sociais. Rio de Janeiro: Zahar,1967. p 23.

29 DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. p 25

30 PLES,Cristina Férias? Nem pensar. Revista Veja, edição 1693 ano 34 número 12 – 28 de março de 2001. Apesar de referencia da mídia, denota os problemas vigentes na sociedade metropolitana.


32 DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular .3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. p 34

33 KRIPPENDORF,Jost. Sociologia do turismo para uma nova compreensão do lazer e das viagens.
São Paulo. Aleph:2000. p.36.

35 UNIBES – União Israelita Brasileira do Bem Estar Social “criada em 1976 que foi o resultado de um processo sistemático de pelo menos cinco anos de reuniões entre as diretorias de Ezra, Linath Hatzaked, três entidades com uma longa tradição e trajetória de trabalho assistencial, associado aos imigrantes e a própria formação da comunidade judaica paulista entre os anos de 1910 e 1920”. In CYTRYNOWICZ, Roney (coord). Unibes - 1915-2000. Uma história do trabalho social da comunidade judaica em São Paulo. São Paulo: Narrativa-um, Projetos e pesquisas de história, 2000.

36 Organizações políticas sionistas que fazem reuniões semanais onde os membros formam grupos de dança, fazem e ouvem palestras e discutem sobre judaísmo.

37 No clube A Hebraica este grupo existe há diversos anos e os membros fazem atividades diversas como palestras e pré-estréias de peças que entrarão no circuito teatral da cidade. Como o próprio nome já diz, é direcionado a pessoas solteiras (há também uma limitação de idade mínima e talvez máxima para participar dos eventos).

38 Podemos notar dois guias semanais, um deles publicado as sextas-feiras pelo jornal A Folha de São Paulo, totalmente dedicado a opcoes de entretenimento do paulistano ( como shows, pecas de teatro,bares,restaurantes,cinema,exposição, etc...) E também a revista Veja São Paulo, revista semanal que mostra as opções da semana referentes a cinema ,teatro,shows,concertos, etc...

39 GRUN, Roberto. “Construindo um lugar ao sol os judeus no Brasil” In: FAUSTO, Boris (org).Fazer a América A imigração em massa para a América latina. São Paulo: Edusp, 1999 p. 354.

40 GRUN, Roberto. Construindo um lugar ao sol os judeus no Brasil In FAUSTO, Boris (org).Fazer a America A imigracao em massa para a America latina São Paulo. Edusp, 1999 p. 354

41 JEFFREY, Lesser. O Brasil e a questão judaica. Trad. Marisa Sanematsu. Rio de Janeiro: Imago, 1995. p. 316.

42 CARNEIRO, Maria Luiza T.O anti-semitismo na era Vargas (1930-1945). São Paulo: Brasiliense, 1988 p 52.

43 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto . Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. p 11.

44 O pesquisador e sociólogo LAZO, Albino Ruiz, divulga em artigo do jornal o Estado de São Paulo. “Há escravos em São Paulo. Estão em prisões infectas nos subterrâneos do trabalho ilegal, circulam pelas ruas antes do nascer do sol e, sobrevivem vizinhos de todos nos, na esquina do inferno com o mundo globalizado” de 18/03/2001 escreve: “Os coreanos foram os primeiros a chegar em São Paulo a partir de 1963, quando a falta de trabalho reinava na Coréia do Sul. Em 1982, foi lhes dada a anistia e centenas de lojas atacadistas havia florescido no Brás e Bom Retiro . Já os Bolivianos habituados a ir de um lugar para o outro a viver em túneis e ver o mundo e a luz do dia umas poucas horas por semana acomodaram-se em viver nas oficinas de costura dos coreanos em condições semelhantes ou piores que as enfrentadas nas minas.

46 FAUSTO, Boris. “Imigração: cortes e continuidades” In: História da Vida Privada no Brasil. V.I. São Paulo Companhia de Letras, 1998 p 34.

48 ASHERI,Michael. O judaismo vivo Trad. Jose Octavio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago 1995. p 159.

50 ASHERI Michael O judaísmo vivo. São Paulo: Imago 1995 p. 118.

51 HECK, Marina BELUZZO, Rosa Cozinha dos imigrantes – memórias e receitas. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998. p 325

52 SOLER, Jean. “As razões da Bíblia: regras alimentares hebraicas”. IN: In Flandrin, Jean Luis e Montanari, Massimo História da Alimentação. São Paulo: Estação Liberdade: 1996 p. 109.

53 ASHERI Michael O judaísmo vivo São Paulo: Imago, 1995 p. 125.

55 DOLANDER, Miguel Angle. “A alimentação judia na Idade Média”. In Flandrin, Jean Luis e Montanari, Massimo História da Alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1996 p 363.

56 ASHERI Michael O judaísmo vivo São Paulo: Imago, 1995 p. 125.

57 MONTANARI, Massimo. “Sistemas alimentares e modelos de civilização”. In Flandrin, Jean Luis e Montanari, Massimo: História da Alimentação. São Paulo: Estação Liberdade 1996 p 109.

59 Depoimento registrado na obra de HECK, Marina e BELUZZO,Rosa Cozinha dos Imigrantes Memórias e receitas São Paulo: Companhia melhoramentos, 1988 p 227.

60 Op. Cit p. 14.

62 CURY, Isabelle (org.) Cartas patrimoniais. 2.ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000. p.363/364

63 CULTURA HOJE. Informativo do Ministério da Cultura. Ano 5. 15 de agosto de 2000.

64 BAHL,Miguel Legados étnicos na cidade de Curitiba: opção para a diversificação da oferta turística local. Dissertação de mestrado p 26

65 O restaurante no shopping já foi fechado.

66 SIMON-NAHUM, Perrine. “Ser judeu na França”. In: ÁRIES, Philippe; DUBY, Georges. História da Vida privada. Vol.5. São Paulo: cia. Das Letras, 1992. p.467.

67 Op. cit. P. 465.

68 Boletim Informativo. Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. Ano V. número 22. Maio 2001

69 Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo.
 
 
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