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Calçada do Lorena: resgatando a memória de Cubatão
Emerson Pancieri das Candeias
 
Introdução

O motivo que me levou à escolha deste tema foi o fato de ter estudado em uma escola municipal de Cubatão chamada “Bernardo José Maria de Lorena”, Capitão-mor de São Paulo e, responsável pela construção da Calçada. Também porque não tive a oportunidade de estudar e conhecer sua obra e história, por falta de iniciativa dos professores, bem como, a não inclusão da história local no programa escolar. Diante disso, tenho como objetivo uma proposta que visa trabalhar a relação Educação e História Local, para isso proponho uma série de atividades que buscariam sensibilizar o interesse e o gosto pela história da cidade. Tenho como justificativa, o fato de que a memória local, assim como a identidade cultural da população do município de Cubatão, vem sendo ao longo do tempo encoberta e enfraquecida, em virtude do processo de industrialização e suas conseqüências.

A Calçada do Lorena

Considerado um dos remanescentes históricos mais importantes de São Paulo, a Calçada do Lorena, construída em 1792 foi a principal via de acesso entre o Planalto Piratininga e o Porto de Santos no final do século XVIII. A iniciativa da sua construção coube a Bernardo José Maria de Lorena, capitão-mor da Capitania de São Paulo de 1788 a 1798, tendo sua execução ficado a cargo dos Oficiais do Real Corpo de Engenheiros de Portugal. A Calçada tinha uma extensão de aproximadamente sete quilômetros e ligava o planalto até uma base no pé da serra, onde hoje é a cidade de Cubatão. Esse empreendimento assinalou o inicio da construção de infra-estrutura destinada a colocar São Paulo no contexto do comércio internacional.

A Calçada veio romper o isolamento em que se encontravam os paulistas, devido à péssima ligação com o litoral. O que mais surpreendeu a população da época foi a técnica empregada na pavimentação, o caminho do mar era todo em ziguezague calçado com de lajes de pedra. A nova técnica, desconhecida nas estradas da Capitania, veio assegurar o trânsito permanente de tropas de muares que principiavam a ser largamente empregadas no transporte de cargas, principalmente o açúcar. Anteriormente, a precariedade das trilhas era um pesadelo para os viajantes, pois, tanto eles como as cargas eram transportadas em redes carregadas por índios É importante ressaltar que a Calçada do Lorena como ligação entre o litoral e planalto foi a “estrada da independência”, pois foi por ela que D. Pedro I retornou a São Paulo na memorável viagem de sete de setembro de 1822. Em 1840, a Calçada do Lorena foi abandonada devido à construção da Estrada da Maioridade, idealizada para receber tráfego de carroças, que levavam açúcar e café até do interior ao litoral. Mais tarde, no governo de Washington Luis, a estrada ficaria conhecida como Caminho do Mar depois de ter sido modernizada e asfaltada em 1922.

Industrialização, transformações, e a criação de espaço turístico.

Jutta Gutberlet, em seu livro Cubatão: desenvolvimento, exclusão social, degradação ambiental1, comenta que os primeiros estabelecimentos industriais no final do século XIX e começo do século XX foram criados para estimular a expansão de Cubatão, ainda pertencente a Santos. A maior parte da mão-de-obra ainda era proveniente das regiões vizinhas, na Baixada Santista, de forma que a integridade regional e social até essa época ainda era assegurada. A partir da emancipação do município de Cubatão em 1948 e com o início da primeira grande fase da industrialização, com a construção da refinaria de petróleo Presidente Bernardes, o quadro populacional modificou-se drasticamente, provocado pelo afluxo crescente de migrantes procedentes de todo o Brasil, à procura de emprego.

Como resultado desse processo ocorreu significativa perda de ligação de sentimentos com a cidade. Outros fatores que resultaram na perda de sentimentos foram os problemas ligados à poluição e a degradação do meio ambiente, ocorridos com mais freqüência nos 70e 80 quando Cubatão recebeu o título de “Vale da Morte”, isso acabou ocasionando o êxodo de moradores antigos para outras cidades da região, sobretudo Santos. Somente em meados dos anos 80 Cubatão passou a ter programas de controle da poluição e reduzir a degradação do meio ambiente.

Em 2003 a Embratur anunciou uma medida que liquida com a fama de Cubatão como cidade do “Vale da Morte”, inserindo-a entre os municípios turísticos de São Paulo. Dessa forma, transformou-se toda área metropolitana da Baixada Santista em região de atração turística2. Entre as principais atrações de Cubatão estão os monumentos históricos da Serra do Mar, onde se encontra a Calçada do Lorena.

Portanto, procuramos proporcionar um espaço para reflexão sobre os primórdios da história local e, evidenciando o passado, isso viria a possibilitar o resgate de laços com a história do município, para os seus moradores.

Uma proposta pedagógica: vínculos e identidade sócio-cultural

A idéia visa envolver alunos das 7° e 6° séries da escola municipal de Cubatão “Bernardo José Maria de Lorena”. Na primeira fase do trabalho será realizada a apresentação da proposta ao professor de história, evidenciando toda a história do local e ao professor de geografia, devido às características físico-geográficas que possui o Caminho do Mar. Posteriormente os alunos das 7° séries serão sensibilizados pelos professores em sala de aula sobre a temática (Calçada do Lorena), o que deve produzir pesquisa e reflexões sobre a história de Cubatão. A pesquisa por sua vez estimulará estes alunos a serem agentes multiplicadores dos fatos históricos.

Na ação pedagógica presente nas atividades, a relação entre professor e aluno e seu processo de organização, buscarão sempre que o aluno seja o sujeito do processo, participando, assumindo responsabilidades, tomando decisões e construindo em grupos propostas viáveis a ação. O processo baseia-se também na participação do aluno como protagonista e sujeito, desenvolvendo sua capacidade para assumir direitos e responsabilidades como membro consciente de um grupo, de uma comunidade. Somente participando, envolvendo-se, investigando, fazendo-se perguntas e buscando respostas é que se chega realmente ao conhecimento. É também imprescindível que haja uma visitação dos alunos das 7° séries à Calçada do Lorena, monitorada pelos professores, pois dessa forma será possível sensibilizar os alunos de maneira prazerosa onde eles terão o contato direto com o atrativo histórico e o seu cenário natural, que formam um conjunto. Depois de sensibilizados, em grupos pretende-se que os alunos da 7° séries elaborem formas de apresentações para os alunos das 6°séries. Essas apresentações poderão ser em forma de peças teatrais, painéis entre outras, utilizando sempre formas lúdicas exigindo a participação de todos. Dessa forma poderemos sensibilizar os alunos para o resgate da memória e dos laços de sentimentos com a cidade de Cubatão. No ano subseqüente os alunos ouvintes serão os protagonistas dessa mesma proposta, o que concretizará o caráter multiplicador e sustentável da mesma. Portanto a proposta tem como objetivos específicos:
- Incentivar o protagonismo juvenil;
- Promover o resgate de vínculos com a cidade;
- Aprender a conhecer, a respeitar e cuidar, dos espaços públicos urbanos;
- Reconhecer o significado das tradições e costumes locais;
- Aprender aproveitar as oportunidades de conhecimento na escola e em todos os espaços do saber social;
- Aprender como os diferentes grupos sociais cuidaram e construíram atual cidade;
- Sensibilizar os estudantes a serem agentes multiplicadores da identidade sócio-cultural do município.

 
1Gutberlet, Jutta – citada da p. 67 à p. 73.
2Jornal “A Tribuna”- Caderno Cidade – 22/06/03