|
|
|
Nova opção de lazer: Programa de visitas monitoradas às Igrejas do Centro Histórico de Santos
|
Jandira Adegas
|
setembro/2004
|
|
Espalhadas por toda a cidade, as Igrejas de Santos exibem, através de seus variados estilos arquitetônicos, seus acervos de arte sacra e de suas histórias, as transformações da região. Construídas em diferentes períodos e locais, como morros, bairros, de frente para o mar, em hospitais, ou dentro dos mais tradicionais colégios da cidade, retratam os valores e costumes de suas épocas. As mais antigas estão localizadas no Centro Histórico. Todas, independentes dos períodos em que foram erguidas, merecem a visitação, tanto dos residentes, como dos turistas.
Procurando diversificar o turismo na região, a Secretaria de Turismo (SETUR), em parceria com a Secretaria da Ação Comunitária (SEAC) e a Cúria Diocesana, estão promovendo uma nova opção de roteiro: o “Programa de Monitoria às Igrejas do Centro Histórico” e, entre os atrativos, verdadeiras relíquias do período colonial.
Para integrar o programa, os templos foram analisados e selecionados sob o ponto de vista artístico-arquitetônico e de sua relevância para transformação de vila colonial para cidade de Santos.
O roteiro inclui as visitas1 à Catedral de Santos, ao Convento da Ordem Primeira do Carmo, à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, à Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, ao Santuário de Santo Antônio do Valongo e ao Museu de Arte Sacra – localizado no antigo Mosteiro de São Bento. Os locais são as referências religiosas mais importantes da cidade.
A Igreja do Valongo, fundada pelos franciscanos, data de 16402, possui um dos raros tronos rotativos do país: de um lado a Santíssima Trindade, de outro o ostensório para Adoração Perpétua. Na década de 1930, ganhou mural de azulejos, autoria de Cândido da Silva Júnior.
A Igreja do Rosário de 1757, passou a ser a Matriz de Santos (1908-1924) - devido à demolição da antiga3, resultado das obras de reurbanização na região da Praça da República -, até a construção da Catedral atual, iniciada na primeira década do século XX.
O conjunto do Carmo, com Igreja e Capela datadas de 1580 e 1760, respectivamente, é exemplo da arte barroca brasileira. Reúne pinturas de Benedito Calixto e obras do frei carmelita Jesuíno do Monte Castelo (1764-1819), pintor, insigne compositor, encarnador4, dourador e prático das artes a serviço da liturgia -. Sobre as obras deste último para a igreja santista, as opiniões ao divididas. Segundo Benedito Calixto: "foi durante sua permanência em S. Paulo que o padre Jesuíno, coadjuvado por seu filho Eliseu, (frei Jesuíno possuía quatro filhos, e foi para o sacerdócio após a sua viuvez) entalhou o belo retábulo para a igreja do Recolhimento de Santa Teresa, o mesmo que ora se inaugura na igreja de S. Bento, em Santos." (jornal "A Tribuna" de 10 de dezembro de 1903), opinião da qual Mário de Andrade, autor de “Padre Jesuíno do Monte Carmelo”2, discordava6.
A Catedral de Santos, é outro ponto importante a ser visitado. Iniciada em 1909 e concluída na segunda metade do século XX, seu estilo neogótico é semelhante ao da pela Catedral da Sé, em São Paulo, ambas projeto de Maximiliano Hell. Três afrescos de Benedito Calixto, retratando Noé, Melquisedec e a cena de Cristo com os discípulos de Emaús, decoram as paredes da catedral santista.
Para chegar ao Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrat, duas são as opções: embarcar através do “bondinho”7 ou subir os 415 degraus de escadaria. Simples, com nave única, a capela abriga a imagem da padroeira da cidade, título oficializado pela Câmara Municipal em 1954.
O Mosteiro de São Bento, restaurado na década de 1970 pelo IPHAN e CONDEPHAAT, abriga cerca de 600 peças, destas 400 estão expostas ao público, desde a instalação do Museu de Arte Sacra no local: coroas destinados aos santos, exemplos de ex-votos (peças de devotos em agradecimento às graças alcançadas), crucifixos, imagens como a da Nossa Senhora da Conceição (1560), de João Gonçalo e o altar-mor, cuja autoria é atribuída ao frei Jesuíno de Monte Carmelo - podem ser apreciadas pelos visitantes.
A Igreja de Santo Antonio do Embaré, a capela de São João Bosco, localizada no pátio interno da Escola Estadual Escolástica Rosa, entre outras, são igualmente importantes, mas decidiu-se priorizar, inicialmente as localizadas no Centro Histórico, com o objetivo de ampliar o potencial turístico, adicionando incluindo o roteiro entre os projetos de requalificação da área central. Lançado no final do mês de junho deste ano, segundo dados da Secretaria de Turismo, o projeto que vem agradando aos turistas de diversos lugares, que somente, no final de semana de julho, na véspera de volta às aulas, recebeu cerca de 200 turistas8. A população local participa do projeto: histórias e curiosidades são narradas pelos guias do “Projeto Vovô Sabe Tudo” - quatro vovôs foram cuidadosamente preparados para essa atividade com aulas dadas pelo historiador Fernando de Gregório e da pesquisadora Marlene Mazzei. O agendamento das visitas é realizado atravpes do telefone (0 - XX - 13) 3219-90810.
|
|
1 A Antiga Igreja Matriz de Santos localizava-se na atual Praça Antonio Teles, registrada na tela de Benedito Calixto, em fotografias e presente em cartões-postais do início do século XX. Ver: “Matriz de Santos”, s/d, óleo sobre tela, 45x70cm. Coleção Pinacoteca Benedicto Calixto. In: Catálogo da Exposição “Benedito Calixto – 150 Anos”. Pinacoteca Benedicto Calixto, 2003 e CORNEJO, Carlos. GERODETTI, João Emilio. Lembranças de São Paulo: o litoral paulista nos cartões-postais e álbuns de lembranças. Volume II. São Paulo: Solaris Edições Culturais, 2001, p.44-45.
2Ao seu lado, encontra-se a Estação de Ferro Santos-Jundiaí, recentemente restaurada (2003-2004), também aberta à visitação pública. Em frente, estão as ruínas dos casarões do Valongo, datados da segunda metade do século XIX, aguardando restauração. Segundo a Prefeitura Municipal de Santos, “está prevista a recuperação das fachadas, que formarão um pátio destinado à apresentação de espetáculos artísticos e culturais” (Informações do website oficial da Prefeitura Municipal de Santos, sobre os roteiros e atrações turísticas da cidade)
3A Antiga Igreja Matriz de Santos localizava-se na atual Praça Antonio Teles, registrada na tela de Benedito Calixto, em fotografias e presente em cartões-postais do início do século XX. Ver: “Matriz de Santos”, s/d, óleo sobre tela, 45x70cm. Coleção Pinacoteca Benedicto Calixto. In: Catálogo da Exposição “Benedito Calixto – 150 Anos”. Pinacoteca Benedicto Calixto, 2003 e CORNEJO, Carlos. GERODETTI, João Emilio. Lembranças de São Paulo: o litoral paulista nos cartões-postais e álbuns de lembranças. Volume II. São Paulo: Solaris Edições Culturais, 2001, p.44-45.
4Encarnar: dar cor de carne a imagens, estátuas ou outros objetos. Pintar imagens de santos de modo que pareçam reais. (Novo Dicionário Básico da Língua Portuguesa Folha / Aurélio)
5ANDRADE, Mário de. Padre Jesuíno do Monte Carmelo. São Paulo: Martins, 1963.
6No catálogo sobre os bens tombados pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, publicado em 1998, pela Imprensa Oficial do Estado, a descrição da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo não menciona o nome de frei Jesuíno do Monte Carmelo. Segundo a cronologia da Enciclopédia de Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural, baseada na pesquisa de Mário de Andrade, o frei pintou, em 1796 o forro da nave da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, em São Paulo, assim como os painéis para o Convento de Santa Teresa, atualmente no Museu de Arte Sacra.
7Segundo Nestor Goulart Reis Filho, trata-se de um sistema de transporte funicular, instalado em um plano inclinado: “Mas a população sempre o chamou de bondinho” (In: REIS FILHO, Nestor Goulart. São Paulo e outras cidades: produção social e degradação dos espaços urbanos. São Paulo: Hucitec, 1994, p.85-87)
827/07/2004 – Centro Histórico já é sinônimo de turismo em Santos. Informativo on-line da Prefeitura Municipal de Santos: www.santos.sp.gov.br.
|
|
|