No dia 27 de abril do ano passado, ISTOÉ publicou uma denúncia sobre estranhos desaparecimentos de livros, a suposta destruição de objetos históricos e a venda irregular de um quadro raro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. A entidade, com 112 anos de vida, mantém em seu acervo, entre outros, documentos de dom Pedro II e da princesa Isabel, além de bandeiras e fardões do tempo do Império. Após a reportagem, o Ministério Público de São Paulo propôs uma ação civil pública para garantir a preservação dos bens, e a Justiça proibiu a direção do órgão de vender ou transferir qualquer item. Agora, o Instituto volta a ser notícia por causa de furtos que teriam ocorrido em sua sede, na rua Benjamin Constant, centro velho de São Paulo, durante o recesso de ano-novo.
Por enquanto, é um mistério o novo desaparecimento de obras raras. A diferença, agora, é que os sumiços passaram a ser investigados pela polícia. Na nova investida ao patrimônio do Instituto, foram levados, segundo a presidente do órgão, Nelly Martins Candeias, manuscritos de dom Pedro I e dom Pedro II, carta de dona Maria I, a Louca; documentos de Santos Dumont, dez quadros do começo do século XX de Wasth Rodrigues, e papéis nos quais foi impressa a Constituição de 1824, além de espadas, medalhas e condecorações da revolução de 32. Há comentários de que a relação seria muito maior do que a divulgada oficialmente.
Comprovadamente, não há controle hoje sobre a entrada e saída dos bens do Instituto. A entidade, segundo avaliação do promotor Carlos Alberto de Salles, também está envolvida em “leilões de bens históricos de duvidosa idoneidade”. Na ação encaminhada em julho do ano passado, ele pediu a transferência do
acervo para a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e o afastamento da presidente, que é professora aposentada da Faculdade de Saúde Pública da USP. Esse pedido não foi aceito.
O Instituto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que sobrevive com doações de sócios e empresários. Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, por exemplo, doou R$ 100 mil em 2004. A instituição foi fundada por representantes da elite paulistana, que hoje são nomes de ruas, como Bernardino de Campos e Ramos de Azevedo. Pertencem à sua diretoria o advogado Ives Gandra e o poeta Paulo Bonfim, entre outros. No quadro de sócios, há personalidades como o jurista Miguel Reale e, nesse momento conturbado, acabam de chegar outras, como o vice-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, e o secretário de Educação do Estado, Gabriel Chalita.
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Memória roubada. Furto no Instituto Histórico leva polícia a investigar o estranho sumiço de obras raras