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Um projeto pioneiro de estímulo à produção científica no Brasil: a Coleção Turismo da Editora Papirus
Margarita Barretto
novembro/2004
 
No ano de 1990, uma tímida professora enviou carta à editora de uma cidade do interior do estado de São Paulo, com uma proposta: notando a falta de material didático em português para os cursos de turismo em geral, que não ultrapassavam os cinqüenta títulos (contando publicações institucionais) e de um livro para sistematizar o ensino da disciplina Planejamento e Organização de Turismo em particular, a professora levava as aulas que preparara para seus alunos, para serem transformadas em livro.

Foi recebida pelo dono da Editora, Milton Cornacchia, hoje de saudosa memória, que fez uma contraproposta: “Não estou apenas interessado num livro. Quero fazer uma coleção! Que tal? Você aceita? ” Assustada com a responsabilidade, a tímida professora pediu tempo para pensar, que lhe foi concedido.

Naquela noite ligou para pessoas que a podiam assessorar. Teve a contribuição fundamental da hoje doutora, Elizabeth Wada, com a qual discutiu os objetivos da coleção. Trocou idéias com professores e colegas, como Luiz Trigo e Maria Ângela Ambrizzi, e, finalmente, procurou aquela que seria, ao seu lado, a primeira autora da coleção, Doris Ruschmann. (Troquei tudo pela terceira pessoa porque ela comecou assim e depois se confundiu)

Assim começou a Coleção Turismo da Editora Papirus.

A idéia da coleção foi, desde o início, prestigiar a produção nacional realizada dentro do âmbito acadêmico. Os nossos livros sempre atenderam os pressupostos da produção científica, privilegiando-se trabalhos resultantes de teses de doutorado e dissertações de mestrado defendidas por cientistas das universidades brasileiras.

Na atualidade a nossa coleção têm 26 títulos (www.papirus.com.br), nos quais podem ser identificados princípios orientadores: a) o turismo não é tratado como indústria, mas como fenômeno social; b) está presente o paradigma da sustentabilidade, tanto da natureza quanto da cultura; c) a preocupação é com o ser humano que pratica o turismo e não com receitas para lucrar com ele.

A equipe da Papirus trabalha constantemente na procura de títulos, publicando a um ritmo de três ou quatro livros por ano.

Enfrentamos, porém, o problema da falta de produção adequada aos objetivos da coleção. A maior parte das teses e dissertações defendidas no Brasil consiste em surveys ou estudos de caso. São bons trabalhos acadêmicos, porém têm pouca receptividade por parte do grande público. Há boas dissertações e teses com a abrangência que o mercado editorial requer, mas muitos autores não querem, ou não dispõem de tempo, para fazer as mudanças necessárias para transformar um trabalho acadêmico em livro, pois a corrida pela sobrevivência de muitos docentes às vezes não permite o “luxo” de parar para escrever, o que reflete o duplo discurso das universidades e agências financiadoras que, de um lado exigem produção científica, mas, de outro, não dão condições para que esta seja de boa qualidade.