19 a 22 de setembro, 2005.
Universidad de Sevilla. Prédio da Reitoria e Faculdades de Geografia e História, Direito e Filologia.
O evento consistiu de 12 simpósios, 4 mesas de trabalho, e quatro conferências, proferidas, respectivamente, pelos Drs. Rodolfo Stavenhagen. Colegio de México. Relator Naciones Unidas para los Derechos humanos de los Pueblos Indígenas, Fadwa El Guindi, da Georgetown University (Washington), Jorge Crespo, da Universidade de Lisboa e Isidoro Moreno Navarro da Universidad de Sevilla.
Os simpósios tiveram como temas: O encontro do turismo com o patrimônio cultural, A saúde numa sociedade multicultural; Antropologia da mídia; Patrimônio cultural, politização e mercantilização; Mudança cultural e desigualdade de gênero no marco local-global atual; As ONGS na reflexão antropológica sobre desenvolvimento e vice-versa; Política cultural: iniciativas das administrações e respostas dos administrados; Protegendo os recursos? Áreas protegidas, populações locais e sustentabilidade; Etnicidade na América Latina: movimentos sociais, questão indígena e diásporas migratórias; Culturas e desenvolvimento no marco da globalização capitalista; As políticas da memória nos sistemas democráticos; Antropologia feminista /ou de gênero.
Dois destes temas tinham muitos trabalhos relacionados ao turismo. Um deles era Protegendo os recursos? Áreas protegidas, populações locais e sustentabilidade, onde foram apresentados vários estudos de caso que demonstram que, quando se trata de especulação do solo e de exploração dos recursos naturais não há primeiro ou terceiro mundos. Em todos os casos, seja na Europa ou na América Latina, a situação é a mesma: políticos e empresários pactuam de diferentes maneiras, para obter lucros e poder em detrimento do bem estar das populações e da preservação da natureza.
No simpósio O encontro do turismo com o patrimônio cultural; concepções teóricas e modelos de aplicação, a intenção dos coordenadores, Agustín Santana e Llorenç Prats foi reunir trabalhos que transcendessem a apresentação de estudos de caso, para já propor modelos teóricos de ação que possam servir para várias situações. Foram apresentados e debatidos dezesseis trabalhos em dois dias de reuniões: Reflexões sobre patrimônio, turismo e suas confusas relações (Agustín Santana e Llorenç Prats); A ativação turístico-patrimonial: uma análise dialógica, (Marta Anido e Elsa Peralta); Turismo étnico e tradições inventadas (Margarita Barretto); Patrimônio cultural a serviço do turismo: os grupos festivos de Llanes, Astúrias (Yolanda Cerra Bada); Desenvolvimento sustentável, patrimônio cultural e turismo: concepções teóricas e modelos de aplicação (Eloy Gómez Pellón); Suecos e Whales and Dolphins (Ramón Hernandez Armas); A Costa da Morte, na Galícia, localização de um modelo de turismo cultural (Nieves Herrero Pérez); Patrimônio e turismo rural (Sole Jiménez Setó); Turismo, espaço e representação do patrimônio no sistema mundial (David Lagunas); A revitalização de destinos turísticos através dos planos de melhora turística (Beatriz Martín de la Rosa); A construção sociocultural do patrimônio e gestão participativa (Raquel de la Cruz Modino); Garajonay: o passado, patrimônio e turismo (Maria José Nogueroles Laguía); Museus e patrimônio alimentar: do sistema de produção até a demanda turística (Maria José Pastor Alfonso); O turismo e as expressões culturais das identidades locais (Xaquin S. Rodriguez Campos); Marginais, primitivos e autênticos: arte turística e patrimônio histórico na Bahia (Roger Sansi).
Os debates giraram em torno da necessidade de integração das populações locais nos projetos de turismo, mas tendo claro que as populações locais não são homogêneas, e raramente podemos falar em “comunidade local”. Há, na verdade, grupos de interesse. Foi muito discutido que as identidades são flexíveis e que colocar o turismo como “o” fator de mudança cultural ou identitária é uma discussão já um pouco ultrapassada, visto ser o turismo apenas um de muitos agentes sociais que provocam mudanças e que a cultura sempre foi dinâmica. Também foi discutido que o turismo que tem o patrimônio como atrativo está, na atualidade, tão massificado quanto o turismo recreativo e que muito do que se vende como “turismo étnico” é utilizado politicamente.
Fora do simpósio, o congresso teve momentos marcantes. A conferências de abertura de Rodolfo Stavenhagen, do Centro de Estudos Sociológicos Colégio de México centrou-se na defesa do resgate dos saberes indígenas, da sua filosofia e da necessidade de reconhecimento da sua autonomia e dos seus espaços sócio-econômicos e territoriais, tomando como exemplo o caso de Chiapas: “o zapatismo no México aspira um mundo onde possam caber muitos mundos. Os povos indígenas de hoje quiçá possam nos ensinar como fazê-lo”.
A conferência de encerramento, ministrada por Isidoro Moreno, da Universidade de Sevilha, apontou o caráter etnocêntrico e etnocida da ideologia do multiculturalismo apregoada pelos “países do Norte”. Defendeu a inclusão das minorias marginalizadas, dos negros, dos homossexuais, dos estrangeiros “para construir um mundo com sociedades centradas no humano, não edificadas sobre a dominação e a desigualdade, mas sobre os direitos individuais e coletivos e pelo reconhecimento da igualdade de todas as culturas”.
Ouvir manifestações desta natureza, numa Europa contemporânea caracterizada por atos de xenofobia e violência étnica, fez a viagem até a Espanha, valer a pena.
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