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Iconografias
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CENTRO DE MEMÓRIA BUNGE. SÃO PAULO/SP
Daniele Juaçaba e Raquel Freitas 1
 
A Bunge, gigante do agronegócio, completa um século de operações no Brasil este ano. A empresa foi participante ativa, em diversas áreas da indústria, do agronegócio, da moda, entre outras, das transformações ocorridas ao longo do tempo. Foi ainda criadora de ícones como o óleo Salada e a margarina Delícia. Nada mais natural que buscasse preservar, parcelas importantes dessa história, com a criação, em 1994, do Centro de Memória Bunge.




Cais do Porto. Santos/SP.
Sem data.
Autor desconhecido.
Coleção Moinho Santos.




Naquele ano, a Bunge acabara de iniciar um processo de fusões, aquisições e vendas que culminou na sua estrutura atual, formada pelas empresas Bunge Fertilizantes, Bunge Alimentos e Fertimport, além da Fundação Bunge. A impressionante massa documental descoberta nessas empresas foi reunida, pela Fundação Bunge, entre os anos de 1995 e 1997, e resultou na formação do acervo do Centro de Memória, que se comprometeu a preservar essa história e disponibilizá-la à comunidade. O resgate, que demandou visitas de técnicos a 44 unidades industriais da Bunge, foi centrado nos departamentos de comunicação (jornais, informativos), marketing (campanhas, pesquisas) e recursos humanos. Arquivos inativos e doações de funcionários e ex-funcionários completaram o trabalho.

O Centro de Memória tem como objetivo resgatar, tratar e disponibilizar a história da Bunge. Seu acervo é formado por mais de 600 mil documentos : imagens de personalidades da memória nacional, como Getúlio Vargas e Gaspar Dutra em visita às unidades fabris da Bunge, e Hebe Camargo, “rainha da tv brasileira”; peças de campanhas publicitárias, como a da margarina Flor, lançada em 1975 simultaneamente com o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos; obras de renomados artistas como Victor Brecheret e Bruno Giorgi; mais de 100 horas gravadas de depoimentos de funcionários e ex-funcionários sobre o cotidiano de trabalho e as transformações da organização. Um dos documentos mais expressivos do acervo é um alvará de 1887, época do Império, concedido pela princesa Isabel, autorizando o funcionamento do Moinho Fluminense.




Linha de produção da Margarina Delícia. São Paulo/SP.
1959
Autor desconhecido.
Fundo Comunicação Sanbra



Tudo isso é mantido por uma equipe de especialistas das áreas de história, ciências sociais e arquivística. O Centro de Memória ocupa um espaço de 220m² de grande visibilidade para o público, localizado no shopping do Centro Empresarial de São Paulo, na região de Santo Amaro (capital).

O Centro de Memória Bunge atua em três áreas distintas: Gerenciamento da Informação, Prestação de Serviços e Difusão Cultural/Ação Educativa. Esta última é bastante focada na difusão da cultura preservacionista, com ações como Educação Patrimonial, Jornadas Culturais e Exposições Temáticas.




Visita de Getúlio Vargas à Fábrica de Tecidos Tatuapé. São Paulo/SP
1940
Autor desconhecido.
Coleção S.A. Moinho Santista e Empresas Associadas.




Recebe visitas de alunos de escolas públicas do ensino fundamental (da 1ª à 4ª série), no projeto Educação Patrimonial. Nele, os alunos são conduzidos a um processo de sensibilização para a importância da memória e da preservação. Eles passam duas horas no Centro de Memória e recebem, ali, conceitos sobre memória e preservação, entendem a importância de se ter espaços como museus e bibliotecas, têm contato com objetos antigos do acervo histórico, como graphotype e máquina de escrever, que servem para explicar os processos evolutivos até chegarmos ao computador; realizam a leitura do livro “Guilherme Augusto Araújo Fernandes”, de Mem Fox, onde a questão da memória é tratada de forma simples e carinhosa através da visão de uma criança e produzem desenhos. Assim, eles se vêem como agentes da história, auxiliando na percepção e na prática preservacionista no ambiente escolar, – na preservação da carteira escolar, do livro, do edifício escolar, da quadra de esportes etc - constituindo-se também em lições de cidadania.

No espaço também são realizadas exposições temáticas, que além de ampliarem a divulgação do acervo, levam conhecimento ao público e, assim, mais uma vez, reforçam o papel do Centro de Memória no âmbito da responsabilidade histórica e na difusão do conhecimento.

Além disso, ainda são realizadas as Jornadas Culturais, com o objetivo de abrir espaço para a comunidade e fazer dele um local de estímulo à preservação e reflexão sobre a memória. São palestras e oficinas oferecidas gratuitamente à comunidade, com renomados profissionais das áreas relacionadas à História, Preservação e Informação. A grande virtude desses eventos é reunir um público amplo e eclético, que vai desde o pesquisador especializado ao historiador, até à dona de casa interessada nos temas em discussão – como formar e organizar museus de bairro, o papel da fotografia na sociedade, a informação na era do conhecimento e outros.




Anúncio do Óleo Salada.
19323
Autor desconhecido.
Fundo Comunicação Sanbra.




A área de Gerenciamento da Informação é reponsável pela manutenção do acervo, organizado em coleções e fundos de arquivos que são identificados e colocados à disposição de pesquisadores por meio do Guia Eletrônico do Centro de Memória, instrumento de pesquisa baseado na Norma Internacional de Descrição Arquivística-ISAD(G), que estabelece uma linguagem universal. O guia é o elo entre o acervo e o pesquisador e está disponível, desde 2004, para pesquisa pelo público interno e externo por meio do site da Fundação Bunge (). Em tempo: essa é a primeira vez que um centro de memória empresarial disponibiliza um guia eletrônico baseado na norma da ISAD(G).

A área de Prestação de Serviços está voltada para o atendimento às pesquisas. As demandas são atendidas desde 1995 e se intensificaram desde então, atingindo o total de 8.000 pesquisas em 2005. A área também é responsável pela integração de novos funcionários, transmitindo a eles a história, a cultura, a identidade e os valores da Bunge. Em 2004, houve um aumento de 100% no envio de documentos para esse espaço, atestando o compromisso dos funcionários Bunge com a prática da cultura preservacionista.




Vista do Porto da Unidade Industrial Moinho Santos. Santos/SP.
Anos 1930.
Autor desconhecido.
Coleção Moinho Santos




A difusão do conhecimento adquirido no tratamento da informação e na preservação da memória é parte integrante da filosofia do Centro de Memória Bunge, que transmite esse importante conhecimento, de forma gratuita, às empresas e entidades que têm interesse na implantação de centros de memória ou projetos de preservação do patrimônio histórico. Já visitaram o espaço, com essa finalidade, empresas e entidades como Fundação Abrinq, Nestlé, Bosch, Agroceres e Boticário.

Enfim, o Centro de Memória Bunge é um organismo vivo e dinâmico, pronto para acompanhar a história do desenvolvimento cultural e econômico do país e garantir o direito à informação na construção da cidadania.
 
1 Daniele Juaçaba e Raquel Freitas são coordenadoras do Centro de Memória Bunge