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Pinacoteca: resgate para o turismo. Uma extensão ao mar?
Márcia Evangelista dos Santos1
 
INTRODUÇÃO

Quando se pensa em cultura, tende-se a pensar em identidades culturais locais e formas de preservar ou resgatar essas identidades; na verdade a existência de diferenças culturais pode ser um dos principais estimulantes para a indústria do turismo e lazer.

A Baixada Santista possui uma riqueza natural e cultural exuberante, tem um povo criativo e responsável por uma cultura diversificada, apesar de muitas vezes desconhecer o seu patrimônio cultural.

A história da região está ligada ao mar e, intimamente ao Porto – porta de entrada do progresso e da civilização –, tanto quanto à arquitetura e às grandes construções, a exemplo do Casarão Branco. Este exemplar do passado, veio a se transformar na Pinacoteca Benedicto Calixto. Um dos protótipos da cultura material, não apenas de nossa cidade, mas da região que, no entanto, necessita hoje de maior divulgação e um projeto de marketing.

A IMPORTÂNCIA DA PINACOTECA PARA A CULTURA E O LAZER

Quem passa pela orla da praia do Boqueirão em Santos, tem uma verdadeira sensação de estar diante de uma miragem. A Pinacoteca Benedicto Calixto encanta pela sua imponência. No Casarão Branco, sede da Fundação Benedicto Calixto, o que salta à vista é ser a única mansão entre os altos edifícios do Boqueirão, cuja beleza arquitetônica se destaca.2 Por que a ênfase na beleza? Ela nos provoca sensações agradáveis que se integram:“O lazer também se caracteriza pela realização de atividades discricionais (de-livre-arbítrio ) que se efetivam nesse tempo livre. Essas atividades, dentre as quais se destaca o turismo, são as visitas como um fim em si mesmas,despertando no individuo sentimentos de bem-estar e satisfação”.3

Com seus dez anos de existência a Pinacoteca é uma boa opção para os amantes das artes, um dos maiores espaços culturais encontrados em nossa região. Em um espaço de 7 mil metros quadrados, que vai das Avenidas Bartolomeu de Gusmão (uma das denominações da grande artéria que circunda a baía) até a Avenida Epitácio Pessoa que corre paralelamente à primeira.

Em suas dimensões espaciais em dois pavimentos, podemos encontrar o vitral dando uma idéia do gosto e ostentação da burguesia da época. Nele, o estilo Art Nouveau, importação da Europa, comparece marcando a decoração do palacete.

O acervo da Pinacoteca abriga 37 obras de Benedicto Calixto, e nove de outros autores, entre os quais destacamos Pedro Alexandrino, A. Fernandes e Sizenando Calixto, filho do pintor e, que o retratou após sua morte4.

Mas a Pinacoteca guarda muito mais que isso, parte de se acervo são também as lembranças de um tempo áureo da Cidade cujos registros se inscrevem em suas dependências.

Em janeiro de 2003 houve uma exposição intitulada de “Santos Antiga e Atual”, onde três expositores retrataram a história de Santos e os pontos turísticos que merecem ser apreciados. Esse tipo de evento constitui-se em uma grande revelação para o próprio santista, que como já foi dito, muitas vezes não conhece sua cidade e principalmente a sua cultura.5 E, além do acervo, memória e eventos, os serviços.

Em 2002 a Pinacoteca completou dez anos de existência. Ainda muito jovem, seu espaço contém uma biblioteca com 800 volumes predominando os títulos de artes, aberta ao público. Uma lojinha vendendo material informativo, quadros, peças de artistas, livros e, um sebo que aceita doações. Aos domingos acontece a feira de antiguidades. E, o local também conta com monitores bilingües à disposição dos visitantes que agregam valor à visita6.

Apesar de serem pequenos os avanços e enfrentando todas as dificuldades dos centros culturais na região e no país, sobretudo, os custos de manutenção, a Pinacoteca também desenvolve projetos com estudantes da rede municipal de Santos, como exemplo, o “Projeto Pão de Açúcar Faz a História” que deve ser mais divulgado e conhecido7. Aspecto a ser mais valorizado, pois: “O turismo juntamente com o mundo dos negócios em geral, com o campo das artes e das comunicações, do lazer e da educação, começou a fazer parte de uma sociedade extremamente ativa, questionada, mutável e multifacetada”8 .

Os alunos das seis Escolas Municipais de Ensino Fundamental pesquisaram a história de seus bairros através de entrevistas com os moradores mais antigos e buscas em livros, revistas e jornais de época. O resultado pode ser conferido na Pinacoteca, na exposição Santos das Crianças. A mostra exibe nove grandes painéis com pinturas e desenhos executados pelos estudantes.

Trata-se de uma iniciativa na área da educação e um resgate cultural para os alunos, que tiveram a oportunidade de conhecer e desfrutar do espaço da Pinacoteca. Iniciativas e resultados que comprovam sua utilidade social.

2.1. POR QUE A PINACOTECA É POUCO VISITADA?

Reconhecidos os aspectos efetivamente positivos dos atrativos e serviços da Pinacoteca, quais as razões da visitação tão rala? Falta maior divulgação, e a ausência de atividades que envolvam os visitantes e otimização do local. Essas são algumas das justificativas para o desinteresse do público em não visitar a Pinacoteca Benedicto Calixto.

Embora tenha localização privilegiada, fácil acesso e entrada gratuita, a média de visitação foi de 13 mil visitantes em 2002, número recorde, se a cifra for comparada com os anos anteriores cuja média foi de aproximadamente cinco mil pessoas, turistas em maioria e, principalmente estrangeiros8.

Comparando os números com os de outros atrativos turísticos de Santos, eles são baixos. Com o Aquário Municipal, por exemplo, que recebe acima de 45 mil visitantes por mês ou aproximadamente 500 mil durante todo o ano. Todavia, também devemos ter em conta que:“Centro de visitação é um local construído e ou demarcado para realização de eventos ou exposição de objetos de interesses, com capacidade para receber determinado número e fluxo de pessoas e com instalações apropriadas para as atividades a serem desenvolvidas”9.

O visitante só se sente motivado com divulgação por intermédio da mídia televisiva e rádio e com um forte apelo promocional. Deveria ser feito um trabalho de marketing, a principal meta a ser desenvolvida e, tentar despertar nas pessoas o interesse para vir a conhecer o local, pois, há uma certa inibição que o espaço pode provocar. Ou exclusão, na medida em que seria identificado com território da elite, ou rejeição, por identificar a Pinacoteca com museus tediosos e poeirentos.

A criação de um folder, como já ocorre com os demais atrativos da cidade, seria uma nova forma de divulgar a Pinacoteca. Um local que é conhecido e freqüentado pela população, com certeza será bem divulgado para o turista. Existe a necessidade de humanizar a Pinacoteca, o trabalho deve ser realizado de modo a que o local, de início, venha a se identificar com a população como uma atração turística e cultural a ser conhecida visitada e apreciada, como acontece com os outros atrativos da cidade, citando-se o exemplo do Aquário, já mencionado anteriormente.

2. 2. SUGESTÕES

A Pinacoteca deveria elaborar uma proposta com a sua inclusão em pacotes turísticos, junto às agencias de receptivo da região. Uma outra questão a ser observada, é a melhor utilização do espaço, que poderia ser incrementado com a realização de curso de restauro, fotografia, cerâmica e formação de artistas. Outra alternativa a ser pensada seria a Bienal do Livro. A criação de uma cafeteria temática tendo o mar em seu enfoque poderia ser igualmente outra opção. Sugestões como essas que viessem a se constituir em projetos, atrairiam mais visitantes locais e, conseqüentemente, mais turistas.Tendo em conta que:“Nos comportamentos que trazem consigo sentimentos de auto realização- o turismo é um deles - a pessoa estabelece um nível de aspiração que pretende atingir”.10 Ressaltando ainda a importância de uma maior captação de novos visitantes seria ideal a criação de estacionamento e uma rampa, facilitando assim o acesso do público. Solução necessária, mas, complicada, em razão do tombamento e das limitações do próprio lote.

2.3. OS CONCORRENTES DA PINACOTECA

No local onde está localizada a Pinacoteca existem fortes concorrentes como: a praia e suas inúmeras possibilidades, o Aquário e o Museu de Pesca. Note-se que os dois últimos são complementares à praia e seus diversos atrativos.

No passado, além do banho, a praia trazia também como atrativos, a prática de esportes e a pesca de arrastão que se caracterizavam como atividades complementares à praia e, que despertavam grande interesse dos visitantes, sentiam-se todos extremamente envolvidos no processo. É o que se aprende das algumas memórias:“Quando a rede estava próxima à praia, podia-se perceber os grandes peixes pulando fora d’água na tentativa de fuga, provocando gritos de admiração da assistência, que geralmente, era grande: curiosos e muita gente a fim de levar o peixe para casa, comprados dos pescadores ou não”11

Sendo “Benedicto Calixto o pintor do mar”, poderia se utilizar esse slogan e associar ao espaço atividades lúdicas associadas ao mar, desenvolvendo-se calendário mensal, onde os visitantes pudessem participar de concursos de fotografias, painéis, pinturas e poesias, todos relacionados ao mar, envolvendo assim o visitante nesse processo.

Os projetos, no entanto, não podem desenvolver-se intuitivamente ou guiados apenas pela sensibilidade: “Para que a atividade turística traga resultados positivos com o mínimo de custos sociais para a comunidade, é preciso que existam bons planejadores, calcados em pesquisa e estudos feitos por especialistas”.12

A Pinacoteca deve resgatar em seus visitantes, fonte de alegria, expectativa e prazer ao ser visitada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do trabalho, observei que a população precisa conhecer sua própria cultura e seus centros culturais em nossa região. Necessitamos melhorar a qualidade do centro de cultura e investir em maior divulgação e atividades que demonstrem maior interesse de quem venha visitar o espaço.

O gerenciamento de certas mudanças e atitudes ao longo prazo, serão possíveis se, existir uma estratégia de gestão e um projeto de marketing, para que a Pinacoteca Benedicto Calixto, com toda as dificuldades enfrentadas se torne um centro cultural mais visitado em nossa região e divulgado em nível nacional. A Pinacoteca é um diamante a ser lapidado.
 
1Bacharel em Turismo e Hotelaria UNIMONTE/SANTOS. Pós Graduação: Cidade Historia: Meio Ambiente Lazer e Turismo, UNISANTOS/SANTOS.
2Santos, Diário Oficial,12/06/02.
3Sarah Bacal, citada à p.98.
4Santos, Diário Oficial 01/11/03.
5Jornal do Boqueirão 25/01/03.
6Santos, A Tribuna 04/04/02
7Santos, Diário Oficial 27/02/03.
8Godoi Trigo, citado à p.66.
8Jornal da Orla, Santos, 02/02/03.
9Gil Nuno Vaz., citado à p.130.
10Sarah Bacal, citada à p.99.
11Gerodetti, citado p. 11
12Bacal, citada p. 118