“Não é só a falta de absorventes para aquela comunidade. É a falta de saneamento básico, de um banheiro e do ensino. A pobreza menstrual é uma consequência de todas essas desigualdades”, enfatiza Isabela Maria de Resende Cavalcante, do 3º semestre de Direito, que coordena o projeto Girl Up Caiçara aqui na Baixada Santista. O projeto visa arrecadar itens de higiene íntima além de formar líderes femininas que atuem nas cidades da região. A experiência resultou na produção do artigo “Impacto negativo gerado pela pobreza menstrual”, em parceria com Vitor Santos Oliveira, do 9º semestre, que foi aprovado para ser apresentado no II Congresso Internacional sobre Democracia e Justiça no Século XXI, que acontece nos próximos dias 18 e 19, no Instituto Universitário Justiça e Paz, em Coimbra.
No início do mês de março eles fizeram a submissão do resumo do artigo e receberam o aceite. “Tivemos a aprovação antes do prazo de submissão acabar”, enfatiza Vitor Oliveira. Desde então os estudantes estão angariando fundos para irem apresentar o artigo em Portugal. Para Isabela Cavalcante, publicar um artigo sobre esse tema representa um compromisso muito forte. “A responsabilidade se torna uma inspiração. Quero ver cada vez mais meninas na ciência e principalmente na política. A pesquisa muda vidas”.
O PROJETO – Em 2020, depois de participar do curso no LALA (Latin American Leadership Academy), instituição sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento econômico sustentável de dezenas de jovens líderes e empreendedoras, Isabela Cavalcante ficou inspirada para desenvolver o projeto na Baixada Santista. O projeto Girl Up é um movimento global da Fundação das Nações Unidas (ONU) que conecta jovens para formar lideranças femininas que lutam pela igualdade de gênero.
Hoje, o Girl Up Caiçara conta com 103 voluntárias que atuam nas cidades de Santos, São Vicente, Guarujá, Praia Grande e Cubatão. Isabela explica que antes de ir até a comunidade é feito um levantamento para saber qual método será efetivo, se é o uso do absorvente higiênico, do coletor menstrual ou do absorvente reutilizável, isso varia de acordo com os recursos disponíveis. “Já entregamos mais de 10 mil absorventes e esse ano recebemos uma doação de 250 coletores menstruais”.
“Nunca vamos em uma comunidade só para entregar os absorventes”, pontua Isabela. Ela conta que se trata de um encontro de quatro meses onde são abordados temas como educação menstrual, direitos da mulher e a importância de lideranças femininas na comunidade como um todo. No Brasil uma em cada quatro meninas ficam sem ir à escola por falta de recursos higiênicos nesse período da menstruação. “A ideia é que depois desses quatro encontros as meninas saibam se organizar para cobrar as entidades públicas”. Por isso a importância de ter líderes em cada cidade.
GRUPO DE PESQUISA – Desde o primeiro ano da graduação Isabela Cavalcante participou do grupo de pesquisa Direitos Humanos e Vulnerabilidades da UNISANTOS. Ela ressalta que durante esse período as docentes que a acompanharam também a incentivaram a publicar artigos. Ela publicou seu primeiro artigo, de forma on-line, no Congresso Internacional de Direitos Humanos, em Portugal, que falava sobre violência contra a mulher.