Entidades acreditam em ações conjuntas e participação da sociedade para combater o lixo no mar

7 de novembro 2023

Poluição por microplásticos no Estuário ainda é uma das maiores do mundo

 

Por Carol Melo – Da Agência de Notícias da Água

 

O estuário de Santos, no litoral paulista, é um dos locais mais contaminados por microplásticos do mundo. Para acabar com este problema, as entidades da Baixada Santista acreditam que seja necessário um trabalho em conjunto, poder público, empresas e sociedade, visto que 80% de todo o resíduo marítimo tem origem terrestre, segundo estimativas internacionais.

De acordo com o Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista – CBHBS, os tipos de lixo mais encontrados no mar são os plásticos, borrachas, metais, vidros, têxteis e papéis. Para combater este problema, que vem piorando a cada ano, a Universidade Católica de Santos contribuiu com o Plano Estratégico para o Monitoramento de Avaliação do Lixo no Mar do Estado de São Paulo (PEMALM).

Este plano foi utilizado para criar estratégias e espaços para o monitoramento de quantidade, tipos, formas e localização de lixo no mar do Estado de São Paulo. Através desses estudos, os participantes conseguem realizar avaliações dos impactos desse lixo na fauna, flora, economia, lazer e saúde.

Marcos Libório é secretário de Meio Ambiente

Como complemento, a Secretaria de Meio Ambiente de Santos atua através do Programa de Identificação das Fontes de Resíduos – Mar, o primeiro estudo público, técnico e auditável, sobre a questão. De acordo com o secretário da pasta, Marcos Libório, o trabalho desenvolveu um método de análise que utilizou técnicas de arqueologia, e que acabou sendo replicado em mais de 20 cidades litorâneas brasileiras e quatro países.

“As duas principais fontes identificadas foram os canais de drenagem e as comunidades que habitam as áreas de manguezal ao longo do canal do Estuário. Para os canais de drenagem, nós instalamos barreiras flutuantes para reter o material sobrenadante. Atualmente, um novo modelo de barreira está em testes, com o uso de aguapés, plantas que se alimentam de matéria orgânica”, explicou o secretário.

Já para as comunidades das áreas de manguezal, foi criado o Programa Beco Limpo, com apoio do Ministério Público Federal. O programa capacita jovens dos bairros do Dique da Vila Gilda, São Manoel e Vila do Criadores em educação ambiental, marcenaria, horta urbana e compostagem. O objetivo é mudar o comportamento, reduzir o descarte, reaproveitar os resíduos secos e úmidos, gerar renda e oportunidades de aprendizado.

Para Libório, todo esse trabalho, no entanto, não dará resultados caso a sociedade não se comprometa em fazer sua parte também. “A população pode agir descartando corretamente seus resíduos, fazendo a separação em casa, participando da Coleta Seletiva e apoiando ações de educação ambiental”, comenta.

Porém, as entidades sociais e organizações sem fins lucrativos mostram que a sociedade pode fazer muito mais que isso. Na região, diversas ONGs organizam mutirões de limpeza das praias e manguezais da Baixada Santista. Este é o caso do Instituto Ecosurf, que trabalha há 23 anos com Educação e a Cidadania Ambiental aliada ao Oceano como princípio norteador para projetos e ações, incorporando pessoas de diversas áreas, nos mais variados níveis de conhecimentos, que se comprometem com o desafio global da construção de sociedades sustentáveis e pacíficas.

“Proteger o Oceano é da nossa Natureza. São mais de 20 mil voluntários envolvidos, mais de 500 campanhas de despoluição na zona costeira e marinha. Além de 600 palestras sobre conservação do oceano, 5 mil estudantes impactados com educação ambiental”, ressaltou o CEO do Instituto, João Malavolta.

Dentre os principais trabalhos da instituição estão as campanhas:

-Mares Limpos, lançada em fevereiro de 2017;

-Agenda 2030, importante documento que propõe 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), cuja uma das metas é prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha;

-Década do Oceano, que busca construir uma estrutura comum para garantir que a ciência e a cultura oceânica possam apoiar a sociedade na implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável;

-Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar (PNCLM);

-Projeto Limpeza de Praia, para prevenção, despoluição, monitoramento e pesquisas sobre o lixo no mar, promoção de políticas públicas, educação e informação para a cultura oceânica e cidadania ambiental. As ações diretas do projeto são instrumentos poderosos de mobilização e engajamento social do Instituto Ecosurf.

Combater o Lixo no Mar é uma das missões do Instituto EcoSurf

“Essas operações promovem a sensibilização da sociedade e permitem experiências de impacto com o propósito de desafetar e restaurar os frágeis ambientes naturais da costa brasileira que sofrem com a poluição por resíduos plásticos e outros estressores ecossistêmicos”, disse Malavolta.

A administração dos conflitos do uso da água e poluição em locais de lazer, turismo e esporte, como as praias, é feita pelo Comitê de Bacias Hidrográficas da Baixada Santista. O vice-presidente da instituição, Nelson Portéro, explicou que é papel do grupo dar apoio à escolha dos projetos que contemplam as metas e ações dos Planos de Bacias (BS e Estado).

“Nossa participação é principalmente nas demandas de recursos financeiros oriundos da “Cobrança (outorgas)” e da “CFURH – Compensação Financeira pelo Uso dos Recursos Hídricos (represas e hidrelétricas)” e, participando de projetos de educação ambiental, além de encontros regionais, estaduais e até federal. Temos como meta atualização profissional de seus representantes”.

O CBH-BS é composto pelo Poder Público (Estado e Municípios) e pela eclética Sociedade Civil (Usuários das águas, Uso Industrial e Comercial, Universidades/Institutos, Entidades de defesa do meio ambiente, Sindicatos de trabalhadores, Entidades de Classe profissionais liberais e Entidades de defesa dos direitos Civis.

Para o vice-presidente, toda essa representação tem pontos de vista distintos sobre o tema lixo no mar, mas é consenso entre todos que a Educação Ambiental, a forma como os indivíduos tratam o ambiente costeiro tem base no ensino e exemplos de comportamento social. “O consumo exagerado e reduzidas ações de logística reversa é um fator primordial. É preciso integração entre a hidrografia e o oceano”, ressaltou.

Segundo ele, o grupo ainda participa de projetos de educação ambiental, além de encontros regionais, estaduais e até federal. “Temos como meta atualização profissional de seus representantes eleitos que compõem a plenária do comitê da baixada santista. Consideramos que ainda falta muito para um ideal, mas se cada um fizer um pouco, podemos melhorar o nosso ambiente costeiro”, finalizou Portéro.