Problemas ambientais e fenômeno El Niño: economizar água ajuda a enfrentar mudanças climáticas

7 de abril 2023

Mesmo sem previsão de escassez de água na Baixada Santista, a economia e o uso racional do recurso deve ser feito para evitar problemas hídricos no período mais seco do ano.

 

Por Daniel Rodrigues – Agência de Notícias da Água

 

Não há previsão de falta d’água entre os meses de estiagem de junho a outubro deste ano devido às condições climáticas, porém, esse período tradicionalmente costuma ser o que apresenta menor índice de chuvas no estado de São Paulo. Por isso, a economia de água nessa fase é ainda mais importante. O climatologista e consultor da ONG Amigos da Água, Rodolfo Bonafim, explica que os reservatórios, não só dos rios do estado de São Paulo e da região da Baixada Santista como também grande parte do centro-oeste, estão bem abastecidos. “Nós tivemos muitas chuvas nos últimos meses, esse Verão ainda teve bastante chuva, mas, infelizmente à custa de muitas vidas que foram perdidas no Litoral Norte, em São Sebastião. Já que morreram para que de certa forma tivéssemos água em grande abundância. Infelizmente o preço da chuva foi esse. Muitas vezes ela não cai no lugar certo e na quantidade que deveria ser ideal”, conta o climatologista.

Os reservatórios de água tratada da Sabesp na Baixada Santista estão com cerca de 96% da capacidade total (lembrando ser normal a oscilação deste nível no decorrer do dia, ao longo dos picos de consumo de água que acontecem pela manhã, durante o almoço e no final da tarde, quando maior parte da população se encontra em casa). No mesmo período do ano passado, as estações para tratamento de água da Sabesp na região operavam numa média de 77% da capacidade máxima.

Sobre o sistema integrado de abastecimento de água que atende a Baixada Santista, a Sabesp esclareceu que na região metropolitana da Baixada Santista a água bruta é captada em 27 rios, ribeirões e córregos e segue direto a um dos 15 sistemas produtores de água potável. Após receber o tratamento, o líquido vai, por meio de tubulações adutoras, para um dos 53 centros de reservação (com capacidade total de cerca de 340 milhões de litros de água tratada) construídos em lugares estratégicos das nove cidades da região. É de lá que o líquido segue pelas redes de distribuição até as caixas d’água das residências.

Para Bonafim os reservatórios estão bem “por enquanto”, já que ainda poderão sofrer ameaça do fenômeno El Niño (fenômeno de alterações significativas na distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, com grandes alterações no clima) que apresenta indícios que está se formando de maneira rápida no Pacífico. “As águas do Oceano Pacífico estão se aquecendo rapidamente, mais rápido que a comunidade cientifica esperava, pois ficamos sob efeito da La Niña de resfriamento, por cerca de dois anos e meios, uma La Niña muito persistente, poderosa e intensa que causou invernos rigorosos em 2021 e 2022 e, algumas chuvas catastróficas”, relembra Bonafim. Ele diz que o El Niño este ano promete ser forte, como aconteceu no período de 2015, um ano complicado para o abastecimento de água no estado de São Paulo inteiro, inclusive no Litoral, que teve 45 dias consecutivos sem chuva. Na época da gestão do governador Geraldo Alckmin, alguns reservatórios do estado precisaram até retirar água do volume morto, que, segundo Bonafim, é uma água que pode até estar contaminada, já que fica embaixo do solo dos reservatórios.

Climatologista defende que economia e o uso racional da água deve ser feito o ano inteiro

O climatologista, explica e alerta ainda que a economia e o uso racional da água deve ser feito o ano inteiro independentemente da estação, das chuvas ou da estiagem, já que a água está sempre sendo alvo de algum problema. “Não existe somente a falta de água pela escassez, existe principalmente aqui na nossa região pela contaminação e poluição. A gente percebe isso no nosso dia a dia, vendo o lixo descartado de forma irregular, fazendo com que esse lixo caia nas ruas e calçadas, tampando bueiros, aumentando o risco de enchente.  Esse lixo acaba sendo carreado pela água das chuvas e acaba sendo depositado nos mangues, nos córregos, nos rios e até no mar”, conta Bonafim.

Há também os problemas relacionados aos disruptores endócrinos, já que eles não são filtrados, porque não existe tecnologia nas estações de tratamento de água convencionais que possa filtrá-los. “Os disruptores endócrinos são aqueles resíduos de remédios, principalmente de anticoncepcionais, anti-inflamatórios, antidepressivos. Esses resíduos de remédios precisam de um tratamento nanométrico, porém, ainda faltam membranas e filtros especiais de nanotecnologia para filtrá-los”, conta o climatologista. Ele também diz que esse material está sendo descartado na água e explica que o problema da água, não é só pela escassez, mas também pela contaminação e poluição.

O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica da Baixada Santista (CBH-BS), Nelson Portero Júnior, em alerta ao que Bonafim disse, explica que em cada sub-bacia da região, os indicadores registrados no relatório de situação do CBH-BS, apresenta uma preocupação com as demandas e disponibilidade hídrica para o abastecimento de água. “Outro fator importante a ser considerado é a população flutuante em épocas de temporada e fins de semana, chegando a quadruplicar a população fixa. Com essa tendência de evolução urbana aliadas ao ciclo de estiagem, a forte urbanização pressiona a infraestrutura de saneamento água, coleta de esgoto e a disposição dos resíduos sólidos e prestação de serviços públicos tornando a região, uma área crítica para a gestão dos recursos hídricos”, complementa o vice-presidente do CBH-BS.

Evolução urbana aliadas ao ciclo de estiagem, a forte urbanização pressiona a infraestrutura de saneamento, água e coleta de esgoto tornando a região, uma área crítica para a gestão dos recursos hídricos.

Ele também ressalta que a região metropolitana da Baixada Santista não possui reservatórios naturais e nem artificiais de grandes volumes que atendam a demanda de água para a região por vários meses. “Toda a água distribuída nesta região, provém das captações diretas nos rios. Por essa característica, somos dependentes do ciclo hidrológico (regime de chuvas). As captações da nossa região, feita em cota acima de cinco metros do nível do mar, são transportadas até os reservatórios (caixas d’água) situados em área urbana, onde passam pelo processo de tratamento adequado e distribuídos até o usuário final”, explica Nelson Portéro Junior. Portanto, segundo o vice-presidente do CBH-BS, o abastecimento de água na região é feito em tempo real à captação com qualquer mudança climática que possa acontecer, isso pode interferir tanto no aumento ou redução do volume de água.

É necessário conscientizar a população que o sistema de captação, adução, tratamento e distribuição da água depende do frágil sistema de engenharia sanitária. É o que alerta Nelson Portéro Junior. “As condições climáticas e ambientais que a nossa posição geográfica ocupa, torna possível a produção de água continuamente. Mas, a maneira como tratamos esses recursos hídricos, pode causar a escassez em época em que não há reposição pelas chuvas”. Por isso, em cada unidade habitacional ou coletiva, é importante que eles devem manter seus reservatórios (caixas d ‘água) em boas condições para que não haja perdas de água. A mudança de hábitos em relação ao uso da água, segundo ele, contribui de forma significativa para sua conservação.

Formas bem simples de economizar água

Não lave a calçada, use a vassoura. Utilizar a mangueira por 15 minutos consome 280 litros de água. Quatro dias lavando você gasta mais de uma caixa d’água de 1.000 litros.
Fechar a torneira enquanto ensaboa a louça ou escova os dentes economiza até 97 litros de água.
Após fechar a torneira, certifique-se de que ela não esteja pingando. Essas gotinhas podem custar muito caro, sabia? Aproximadamente R$ 1.200,00 a mais na sua conta e 16 mil litros de água pura e cristalina desperdiçada.
Limpe a louça antes de lavá-la. Essa é uma dica e tanto para evitar o desperdício. Tire o excesso de resíduos a seco e só depois jogue água. Ah, também não se esqueça de desligar a torneira enquanto estiver ensaboando.
Reutilize água da máquina de lavar. Essa água não é própria para o consumo, mas pode servir para as plantas, lavar o quintal e dar descarga.
Cheque se há algum vazamento na sua casa. Essas perdas involuntárias, que normalmente não estão aparentes, também cobram um preço alto ao meio ambiente e às suas contas, no fim do mês.
Não tome banhos muito demorados. Uma ducha de 15 minutos gasta, em média, 135 litros de água.
Acumule as roupas para lavar. Assim, você enche totalmente a máquina e usa água uma vez só.

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