As consequências da Covid-19, principalmente para as mulheres que estão na linha de frente do combate à pandemia, assim como para aquelas que sofrem violência dentro dos lares, estiveram no centro da discussão do webinar “A participação da mulher nas instituições políticas e jurídicas”, no dia 27 de agosto, durante a 67ª Semana Jurídica da Faculdade de Direito da UNISANTOS. Entre os destaques, o papel de liderança que muitas mulheres, em diferentes países, têm desempenhado no enfrentamento da crise sanitária mundial.
O evento contou com a presença da promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo e membro da Comissão Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar (COPEVID), Silvia Chakian; das docentes da UNISANTOS, doutoras Ana Paula Fuliaro e Renata Soares Bonavides, diretora da Faculdade de Direito, e da mestre Flávia de Oliveira Santos Nascimento. A mediação ficou com a representante do Centro Acadêmico Alexandre Gusmão, Gabriella Scaramussa.
A promotora Silvia Chakian destacou que a pandemia do novo coronavírus, além de devastar o mundo e trazer à tona nossas fragilidades e angústias, também escancarou a desigualdade social para às mulheres em todas as esferas. Impactadas mais negativamente pela Covid-19, estão expostas diretamente aos riscos de contaminação, pois estão na linha de frente do combate. Ela apresentou dados do relatório da ONU, que mostra que 70% dos trabalhadores da área da saúde no mundo são mulheres. Além de considerar o alto risco e a baixa remuneração, explicou que nesse momento as mulheres são as mais afetadas pelo desemprego e pela crise econômica.
REPRESENTATIVIDADE – Chakian lembrou que muitas mulheres e meninas sofrem violência doméstica familiar, onde a casa não é sinônimo de lar, mas um espaço de medo e abuso. Nos momentos de crise, essa situação pode se tornar ainda mais crítica, segundo alerta da ONU sobre os efeitos da violência contra a mulher nesse cenário epidêmico. Diferente dessa realidade, a promotora fez questão de citar algumas lideranças femininas em outros países, que têm se destacado como exemplo de gestão política no enfrentamento à crise. Ela citou a primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, entre outras.
A promotora enfatizou a importância de destruir estereótipos, mas sem a criação de novos. “Não é isso que queremos. Não se trata de dizer que mulheres são piores ou melhores. Mas, esses exemplos precisam ser analisados, porque eles nos mostram como as mulheres na política podem ter um olhar mais horizontal para o problema. Menos personalismo e mais foco na resolução de problemas”.
EXAUSTÃO – A professora Ana Fuliaro ressaltou que algumas situações vividas pelas mulheres, como a maternidade, precisam ser pensadas como uma questão não somente feminina. Para ela, as mulheres estão acima da estafa. Já passaram por todos os seus limites físicos e psicológicos.
Recordando a fala da promotora, a docente falou sobre as lideranças femininas que venceram no combate à pandemia. E salientou que isso deu a ela esperança. “Esses exemplos de sucesso, demonstram que as mulheres são mulheres. E que elas podem ter senso de liderança ou não. Serem pragmáticas ou não. Então, isso me deu alguma esperança sim. Quando passarmos da pior fase, por conta da pandemia, teremos um grande argumento, de que pelo menos, na nossa época, na principal hecatombe que o mundo enfrentou, nós tivemos belíssimos exemplos de mulheres que conseguiram liderar seus países, evitar mortes, restabelecer a economia e a vida de um país”.