A pedido do Conselho Federal de Farmácia, o Datafolha fez uma pesquisa sobre automedicação no País. Divulgada na semana passada, ela revelou que nos últimos seis meses 77% dos brasileiros fizeram uso de medicamento sem a prescrição médica, sendo que 47% se automedica pelo menos uma vez por mês e 25% todo dia ou pelo menos uma vez por semana. O levantamento subsidiará uma campanha nacional de conscientização em comemoração ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos (5 de maio).
Para o coordenador do Centro de Informações sobre Medicamentos (CIM) da UNISANTOS, professor doutor Paulo Ângelo Lorandi, só a prevenção e a boa informação é que são os remédios para o combate à automedicação. Ele comenta sobre a importância de um trabalho educativo entre pacientes e profissionais da saúde, principalmente no momento atual, em que a crise no setor público e a concorrência entre as redes de farmácia agravam o problema. “Nós somos analfabetos funcionais em saúde”, alerta.
EFICÁCIA DO MEDICAMENTO – Lorandi, que é graduado em Farmácia, mestre e doutor em educação, comenta que nem sempre as pessoas decodificam e se apropriam da informação que está na receita. Nem sempre fica claro para um idoso, por exemplo, como administrar o tratamento. Do outro lado, historicamente, os médicos desvalorizam as reações adversas por temerem que o paciente descontinue o tratamento. “Se você perguntar para as pessoas porque elas costumam deixar de tomar um medicamento, elas respondem: ‘Ah, é muita química, é muito forte’, porque elas não entendem o que é uma reação adversa”, justifica.
Docente do curso de Farmácia, o professor diz que nenhum medicamento é 100% seguro. A questão é dosar o risco e sua eficácia. Por exemplo, há medicamentos para problemas cardíacos que facilmente se tornam uma substância intoxicante. O mesmo ocorre quanto ao uso de antineoplásicos contra o câncer, que trazem uma série de reações adversas, mas prolongam o tempo de vida de quem passa pelo tratamento quimioterápico.
Outra questão levantada é em relação a falta de vínculo entre médico e paciente. O docente aponta que como muitas vezes o mesmo doente pode ser acompanhado por profissionais de diferentes especialidades, é preciso alertar o médico sobre o que o outro já havia receitado. Neste caso, ele sugere que o farmacêutico colete todos esses dados e analise incompatibilidades entre os remédios prescritos e, assim, ofereça a informação mais adequada para aquele momento.
Para combater a automedicação, Lorandi sugere que as pessoas busquem boas fontes de leitura. Ele contribui para isso, pois mantém uma coluna semanal ”Bom Remédio”, no Jornal da Orla.